16 de dezembro de 2008

A Morte do Púlpito




Por Gutierres Siqueira

A igreja evangélica brasileira vive uma tragédia: a morte do púlpito. Nunca na história do protestantismo houve tanto desprezo pela pregação cristocêntrica, preparada com esmero e preocupada com a correta interpretação das Escrituras. O púlpito tem sido substituído pelo altar dos “levitas” ou para os ”sacrifícios” em dinheiro dos mercenários mercantilistas. A “pregação” da Palavra é, hoje, conceituada como qualquer um que sobe na plataforma e começa a falar ou gritar.

Talvez você, lendo esse texto, pense: - “Na minha igreja a pregação é sempre um espaço grande e recebemos visitas de diversos pregadores”. Esse artigo quer alertar que não basta um tempo grande para a pregação e nem que a plataforma esteja cheia de homens engravatados; antes é necessária a avaliação da qualidade dessa pregação. A pregação precisa ser avaliada, assim como fazia os cristãos bereanos, que por sua nobreza, comparam as homilias de Paulo com as Sagradas Escrituras.
Quais são as causas da “morte do púlpito” no evangelicalismo moderno?

A) Espiritualidade em baixa é igual à pregação sem qualidade.

A pobreza das pregações é evidente nesses últimos dias, pois isso é conseqüência direta da pobreza na vida cristã, pois como dizia Arthur Skevington Wood: “Leva-se uma vida inteira para preparar um sermão, porque é necessária uma vida inteira
para preparar um homem de Deus”. Enquanto a espiritualidade da Igreja estiver em baixa, a pregação, por mais espiritual que ela pareça ser, não passará de palavras jogada ao vento. Não basta uma pregação erudita, mas a erudição deve ser acompanhada de contrição, humildade e oração, pois bem escreveu E. M. Bounds: “Dedique-se ao estudo da santidade de vida universal. Sua utilidade depende disso. Seus sermões duram não mais do que uma ou duas horas; sua vida prega a semana inteira.”
Hoje existem muitas igrejas que oram “bastante”, são campanhas atrás de campanhas, mas essas orações não passam de busca “dos próprios deleites” ou de “determinações” de bênçãos. Ora, a oração sem a busca da face de Deus é uma característica do evangelicalismo contemporâneo. Uma igreja que ora errado, logo terá pregadores pobres.

B) A falta de preparo para pregar.

Erudição, esmero e homilética não são inimigos da espiritualidade. Um mito vigente na igreja brasileira é que quem se prepara muito para pregar, terá uma pregação “não ungida”. Isso é mera desculpa de pregador preguiçoso. Você, leitor, já deve ter visto alguém dizer: - “Quando cheguei aqui não sabia o que ia pregar, mas assim que subi nesse altar o Espírito Santo me revelou outra Palavra” ou “Eu não preparo pregação, o Espírito de Deus me revela”... São frases irresponsáveis e brincam com o Espírito Santo, atribuindo a Ele sua preguiça de passar várias horas em estudo e oração para pregar a Palavra.
Hoje, pregar com esboço em papel é quase um pecado em muitas igrejas; alguns olham com “cara feia” para os que levam algo escrito em sua homilia. Será que não sabem que um dos sermões mais impactantes da história, foi literalmente lido pelo pregador. Esse sermão era “Pecadores na mão de um Deus irado”, que Jonathan Edwards pregou em 08 de Julho de 1741 na capela de Enfield. O biógrafo de Edwards, J. Wilbur Chapman , relatou:

Edwards segurava o manuscrito tão perto dos olhos, que os ouvintes não podiam ver-lhe o rosto. Porém, com a continuação da leitura, o grande audi­tório ficou abalado. Um homem correu para a frente, cla­mando: Sr. Edwards, tenha compaixão! Outros se agarra­ram aos bancos, pensando que iam cair no Inferno. Vi as colunas que eles abraçaram para se firmarem, pensando que o Juízo Final havia chegado.[1]

C) Ter uma visão pragmática sobre a pregação.

Para muitos, uma pregação só é válida se houver resultados. As pessoas não querem saber se o conteúdo da pregação é biblico ou herético, mas preferem esperar pelos resultados propagados pelo pregador. A primeira motivação dos pragmáticos é buscar a praticidade, portanto o pragmatismo é casado com o imediatismo, onde tudo tem quer ser aqui e agora.
O conceito de pregação “ungida” é bem pragmática, pois para boa parte da comunidade evangélica, a boa pregação tem que envolver o emocional, nesse contexto nasce frases do tipo “crente que não faz barulho está com defeito de fabricação”. Se não houver choro, gritos, pulos ou outras manifestações “espirituais”, a pregação perde o seu valor para aos cristãos atuais.
Pregadores pragmáticos gostam de ver seus ouvintes interagindo exageradamente no culto. É constante dos pregadores mandarem as pessoas glorificarem e até falar em línguas. Nesses cultos a justificativa para essas ordens é que “quando a glória da Igreja sobe, a glória do céu desce”. Não há respaldo bíblico para esse tipo de pensamento que é passado como algo bíblico. A emoção e as experiências fazem parte da vida cristã, mas não devem normatizar a liturgia ou direcionar os crentes, pois os verdadeiros cristãos tem a Palavra de Deus, e somente Ela, como regra de fé e prática.

D) Pastor-professor X pregador-ator

Eis o dilema existente no evangelicalismo moderno. O pastor-mestre foi substituído pelo pregador-carismático-ator. O mestre que orientava a sua congregação nas Sagradas Letras, sendo um homem de estudos e contemplativo, era característico de piedosos servos de Deus, como Charles Spurgeon, Jonathan Edwards, D. L. Moody etc.
O púlpito tem sido morto pelo estrelismo de pastores-atores, que confundem a plataforma da igreja com um palco para entretenimento, são pessoas que pregam o que a congregação quer ouvir e fazem de seus carismas uma imposição de sua pessoa. Quem estuda a história da igreja, verá que os piedosos servos de Deus, da Reforma as Grande Despertamento do século 18, eram homens de grande interesse pela pregação expositiva, onde o texto fala por si só. A partir do século 19, os sermões são cada vez mais temáticos e os pregadores mais articulados no estrelismo.
O Movimento Pentecostal peca, e gravemente, em não valorizar os sermões bem preparados e articulados, ungidos pelo Espírito Santo, para edificação da congregação. Em uma piedade aparente, muito exaltam a ignorância como virtude, justificando os sermões artificiais, sem profundidade e recheados de chicles, modismos e até heresias.

Referência Bibliográfica:


1. BOYER, Orlando. Heróis da Fé. 15 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1999, p. 03.

O AVANÇO DOS CRENTES - CAPA da revista VEJA em 1981- Será que mudamos em algo?


O avanço dos crentes

Sob a luz do Espírito Santo e
com um código que proíbe o fumo
e a bebida, o pentecostalismo já
converteu 8,5 milhões de brasileiros


O alagoano Manoel Raulino do Nascimento, de 46 anos, estivador no porto de Santos, fumava e bebia regularmente até a semana passada, quando ouviu a voz do missionário Manoel de Mello, fundador da Igreja Evangélica Pentecostal O Brasil para Cristo, num disco em que relata sua peregrinação por Jerusalém. Um brilho nos olhos, Nascimento avançou sobre um maço de cigarros, jogou-o sobre as brasas do fogão a lenha, agarrou a garrafa de cachaça sempre ao alcance da mão e entornou na pia seu conteúdo. Ele ficara impressionado sobretudo com a descrição do túmulo de Jesus Cristo, visitado pelo missionário durante os sete dias de jejum e oração a que se submeteu em Jerusalém. E resolveu incorporar-se ao rebanho de 8,5 milhões de pentecostais, ou "crentes", espalhados pelo país, segundo cálculos da Sociedade Bíblica do Brasil e da Confederação Evangélica do Brasil.

A conversão de Nascimento tornará algo mais árida sua vida terrena: ele terá de vestir o apertado figurino usado por seus companheiros de fé. Os pentecostais - que devem seu nome ao dia de Pentecostes, quando o Espírito Santo teria aparecido aos apóstolos na forma de línguas de fogo - não podem dançar, não vão ao teatro nem freqüentam sessões de cinema. Também não usam roupa de banho, lêem quase que exclusivamente livros religiosos, rezam pelo menos duas vezes ao dia e entregam à seita a que pertencem o dízimo - 10% seus rendimentos mensais. São muito severos na educação dos filhos e de um rigor absoluto no que se refere à fidelidade conjugal. Enfim, só admitem o sexo como instrumento de procriação.

Apesar dessa escassez de atrativos mundanos, o número de pentecostais tem acusado saltos espantosos nas últimas décadas - e é provável que os cálculos disponíveis no momento sejam amplamente superados pelos resultados do censo de 1980. Afinal, só a Igreja Evangélica Assembléia de Deus, a maior das diferentes seitas pentecostais catalogadas no país, pastoreia 2,5 milhões de fiéis. E a Igreja O Brasil para Cristo, a segunda em importância, guarda na sede nacional, em São Paulo, um fichário com 1 milhão de fiéis.

Ao pé da letra - Essa imensa família descende do minguado grupo de evangelizadores americanos que, em 1910, desembarcaram no município paranaense de Santo Antônio da Platina. " O povo achava que a gente não tinha a cabeça no lugar", lembra Maria Silveira Mascaro, filha de Felício Mascaro, o primeiro cidadão brasileiro convertido ao pentecostalismo. "Eles eram exóticos demais para preocupar as igrejas protestantes tradicionais", explica Waldo César, autor de "Urbanização e religiosidade popular" (Revista Vozes, n.º 7). Compõem o protestantismo tradicional - detectado no Brasil há 150 anos, a partir sobretudo da imigração alemã - batistas, presbiterianos, metodistas, episcopais, congregacionais e luteranos. Entre estes figura, por exemplo. o ex-presidente da República Ernesto Geisel.

Os crentes se consideram protestantes, mas diferem de seus irmãos de credo principalmente por interpretar a Bíblia ao pé da letra e entender que tudo o que ocorre de bom no mundo é obra do Espírito Santo. Os pentecostais acreditam na iminência da vinda de Jesus Cristo ao planeta, "para o estabelecimento de um reinado de 1.000 anos na Terra", e criticam o que chamam de "mundanismo" dos demais protestantes. Sua pregação parece ter dado certo desde o começo: dez anos depois do desembarque dos pioneiros evangelizadores em Santo Antônio da Platina, os pentecostais já haviam erguido cinqüenta templos em solo brasileiro.

A semente caiu em solo fértil. Os templos eram 267, em 1930; 912, em 1940; 1.929, em 1950; 4.583, em 1960; e 11.118 em 1970. Hoje, há 26.000 templos no país, mais de 1.000 deles em São Paulo. Nesse mesmo perímetro urbano da maior cidade do maior país católico do mundo, o Vaticano comanda só 353 paróquias e 400 igrejas e capelas. Os templos pentecostais são freqüentemente acanhados, quase sempre pintados de azul e branco, e ficam engastados na periferia das cidades. Multiplicam-se num processo semelhante ao da divisão celular: um pastor com espírito de liderança e algum carisma abandona uma igreja já consolidada, cuja liderança dividia com outros pastores, e funda seu próprio templo. Muitas prosperam também economicamente. A Igreja de Nova Vida, uma pequena seita, ergueu no bairro carioca de Botafogo um templo de sete andares, com refrigeração interna, mármore italiano e vagas na garagem para cinqüenta carros.

Empregadas exemplares - Em 1930, os pentecostais representavam apenas 9,5% dos protestantes brasileiros. Um recente levantamento do sociólogo Francisco Cartaxo Rolim, da Universidade Federal Fluminense, constatou que eles somam agora 70% desse total. Rolim descobriu, também, que a maioria dos convertidos não foi capturada ao protestantismo tradicional. Ele encontrou 57% de ex-católicos, 4% de antigos umbandistas, 3% de batistas, 2% não tinham religião anterior, 1% haviam sido espíritas e o resto saíra do próprio protestantismo. "Os pentecostais são, geralmente, pessoas que migraram do campo para a cidade", diz Haroldo Murá, 41 anos, editor do jornal católico A Voz do Paraná, de Curitiba, e um estudioso da religiosidade popular. "Na cidade, o camponês perde os amigos, os pontos de apoio, larga os tênues vínculos que o uniam ao catolicismo", pondera Murá. "Precisa de calor humano, de solidariedade. Assim, torna-se presa fácil dos valores pentecostais."

Convertidos à nova fé os crentes ampliam, no plano espiritual, a esperança de salvação e, no material, a chance de conseguir certos empregos. "As empregadas crentes são mais recatadas, não têm vícios, não saem à noite, não faltam ao serviço", depõe Lucy Dias de Lima, proprietária da Lovelucy, uma das mais procuradas agências de empregadas domésticas de São Paulo. Mas os templos das seitas vão progressivamente deixando de ser freqüentados apenas por vidas apagadas que subitamente se acendem com a luz divina. A Terceira Igreja do Evangelho Quadrangular, em Curitiba, hasteada no bairro de Água Verde, tipicamente de classe média, tem convertido profissionais liberais, médicos, advogados, engenheiros, funcionários públicos graduados e, de uns tempos para cá, juízes de Direito.

Um desses magistrados é Altair Costa Souza, 51 anos, cinco filhos, que acaba de se aposentar como titular da 4ª Vara da Família de Curitiba. Filho de católicos, ele se converteu ao pentecostalismo ao visitar ocasionalmente o templo da Igreja do Evangelho Quadrangular. Em 1980 foi sagrado pastor e, no início deste ano, abriu seu próprio templo. "Depois que aceitei Jesus como único e suficiente salvador", diz Souza, "nunca me faltou a paz." Ex-freqüentador de colunas sociais, o juiz hoje anda com uma Bíblia permanentemente a tiracolo e ganhou fama no Tribunal de Justiça por conseguir a maior média de reconciliações entre casais prestes a separar-se.

Animadores de auditório - Magistrados, de qualquer forma, são ainda poucos entre os crentes, um universo em que tanto fiéis como pastores têm geralmente modestíssima posição social. Aos pastores não se cobra diploma algum - basta que saibam ler e escrever. O resto fica por conta do Espírito Santo, que faz seus devotos compreenderem tudo quanto está dito na Bíblia e compensa eventuais deficiências culturais. Tecnicamente, o pastor figura no topo da hierarquia pentecostal, alguns degraus acima de presbíteros, diáconos e auxiliares leigos. O pastor goza de autonomia quase completa em seu templo e só está impedido de trocar-lhe a denominação, vendê-lo ou consagrar ministros. Essas são atribuições exclusivas da congregação estadual de cada seita, uma espécie de colégio de pastores. A liturgia tem pouca rigidez, circunstância de que se valem os pastores para comportar-se à maneira de animadores de auditório. São diálogos sempre previsíveis:

- Se Jesus é por nós... - sugere o pastor.

- Quem será contra nós? - devolve o rebanho.

Estabelecida a empatia, pastores e fiéis protagonizam surpreendentes happenings pentecostais. Falam línguas estranhas (o dom da "glossolália", conferido aos apóstolos em Pentecostes), às vezes inexistentes e ininteligíveis. Jogam-se no chão, incorporam e desincorporam demônios, e, sobretudo, contracenam em curas milagrosas.

Prioridade para os ciganos - Bíblia nas mãos, pregadores pentecostais se incorporam diariamente à paisagem das praças mais movimentadas das grandes capitais - os homens vestindo invariavelmente paletó e gravata, as mulheres sem qualquer pintura e metidas em vestidos fora de moda. Depois das praças, estão nos presídios os palcos favoritos dos pregadores. Até há dois anos, o ex-presidiário Sebastião Oscar, convertido à Igreja do Evangelho Quadrangular quando ainda estava na cadeia, era o único pregador pentecostal a visitar os 900 presos da Penitenciária de Piraquara, a 25 quilômetros de Curitiba. Agora, divide seu rebanho com cinco pastores de seitas concorrentes.

Os ciganos também têm prioridade nesse esforço de catequese. A Obra Missionária Cigana, fundada em Salvador pelo pastor Eraldo Alves dos Santos, já batizou - sempre por imersão, como manda a liturgia - quatro ciganos, os primeiros remanescentes dessa raça convertidos ao pentecostalismo na América do Sul. "Ao todo já contatamos uns 1.000 ciganos", calcula o pastor. Mais: até o fim do ano será lançada urna ofensiva destinada a "levar os ensinamentos de Jesus" a ciganos de Alagoas, Sergipe, Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná.

Essa ofensiva certamente recorrerá a programas de rádio, hoje o mais poderoso instrumento de evangelização usado pelos pentecostais. Há mais de 200 programas convencionais - em que um pastor reza e põe no ar "testemunhos" de curas - em pelo menos 100 emissoras de rádio de todo o Brasil. Mas começam a ser inovados, como já acontece na Rádio Continental do Recife. Em vez de sucessos do momento, a parte musical compõe-se de salmos, solos de harpa ou piano, hinos religiosos de cantores obscuros. Enfim, patrocinadores do gênero não costumam figurar na programação normal. Assim, fabricantes de cigarros e bebidas cedem espaço a patrocinadores com nomes tão evangélicos quanto os artigos que vendem: "A Trombeta de Sião", "Galeria Brilho Celeste" ou "Aurora do Céu".

Visões e profecias - O investimento que mais dividendos rende aos pentecostais, entretanto, é a doutrina da cura peIa fé. Algumas seitas, como a Igreja Deus É Amor, liderada pelo missionário David Miranda - "missionário" é o nome dado ao pastor que cria uma seita -, denunciam com espalhafato a possibilidade de curas divinas. Logo à entrada do templo da sede nacional da Igreja Deus É Amor, em São Paulo, há uma parede ornamentada por centenas de muletas e aparelhos ortopédicos.

Em todo culto pentecostal, há sempre um horário reservado aos chamados "testemunhos": qualquer fiel pode agarrar o microfone e relatar curas maravilhosas, visões e até profecias. "As pessoas que vêm aqui saram, engordam, progridem na vida, pagam mais comida para os outros", diz o garçom Manoel Nino Sobrinho, adepto da Igreja Deus É Amor, no Rio de Janeiro. Para o crente, a cura pela fé é algo tão singelo quanto reduzir uma dor de cabeça com a ingestão de uma aspirina.

Em 1974, a Igreja Deus É Amor preparou a inauguração de seu primeiro templo em Curitiba anunciando pela Rádio Marumby, a cada 15 minutos, "a falência dos hospitais de Curitiba após a nossa chegada". Naturalmente, nenhum hospital fechou por falta de pacientes; o que houve foi um áspero atrito com o Conselho Regional de Medicina e o arcebispo católico de Curitiba. Os crentes, na verdade, votam uma pesada desconfiança à ciência médica. Em junho passado, o pastor Luís Carlos Saladar, da Igreja Independente, foi expulso da Santa Casa de Misericórdia de Livramento, na fronteira do Rio Grande do Sul com o Uruguai, depois de pilhado na tentativa de convencer uma paciente a abandonar o hospital e recorrer ao "pronto-socorro do Espírito Santo".

Desencanto com o Concílio - A Igreja Católica acompanha com atenção e certa inquietude a escalada do pentecostalismo - uma cópia da pesquisa de Rolim, por exemplo, estacionou recentemente na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Brasília - também porque, ao contrário dos protestantes tradicionais, a maioria das seitas pentecostais quer distância do ecumenismo vaticano. "O movimento pentecostal tem sido objeto de discussões em nossas assembléias-, informa dom Avelar Brandão Vilela, cardeal-arcebispo de Salvador e primaz do Brasil. O que mais intriga a CNBB é o fato de um número crescente de brasileiros, oriundos principalmente das classes menos favorecidas, entregar-se a seitas que considera à margem da realidade política, social e econômica do país.

"Os pentecostais afirmam que não é o homem que transforma a sociedade", diz Rolim. "Para eles, Deus é quem age no mundo. A sociedade se transformará se cada um se entregar a Jesus Cristo." Rolim detectou entre os católicos convertidos ao pentecostalismo um certo desencanto com a tendência que levou a Igreja Católica a colocar em segundo plano, depois do Concilio Vaticano II, a devoção aos santos, às velas, às procissões, enfim, alguns dos mais antigos símbolos da religiosidade popular. "O pentecostalismo supre essa ausência porque mexe com o lado emocional dos fiéis", constata Rolim.

Em 1976, o falecido professor Douglas Teixeira Monteiro, da Universidade de São Paulo, observou que a Igreja Católica enfrentava "uma situação de mercado onde tem que disputar fiéis em condições de igualdade. às vezes até de inferioridade, notadamente nos grandes centros urbanos". Os crentes, todavia, encaram com naturalidade o milagre da multiplicação dos fiéis. "A expansão pentecostal é um dos muitos sinais de que estamos nos aproximando do fim do mundo", interpreta o pastor Adão Garcia, da Igreja Evangélica Pentecostal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre. "A Igreja Católica esqueceu a assistência espiritual."

Obediência à autoridade - É certamente um exagero deduzir que a Igreja Católica perde fiéis apenas porque se dessacraliza. Mas é incontestável que, num momento de crescente polarização política de bispos e padres, os pentecostais se multiplicam oferecendo exclusivamente as vantagens da vida eterna. A opção da Igreja Católica pelos pobres terá certamente reforçado a fé em grandes contingentes de praticantes da classe média. Mas, para muitos pobres, essa opção só adquire contornos práticos se lhes

dá vantagens materiais ou espirituais. É aí que a dessacralização católica, independente de seu conteúdo, torna fértil o campo dos pentecostais, pois o fato de um bispo defender os pobres não é suficiente para torná-los menos pobres. O pastor, ao contrário, oferece exclusivamente o reino dos céus, permitindo aos pobres pensarem que o dia de sua riqueza, mesmo em outra vida, está mais próximo.

O professor Áureo Bispo dos Santos, da Universidade Federal da Bahia, lembra que os pentecostais são historicamente obedientes à autoridade, seja qual for a ideologia dos detentores do poder. "Aceitamos poderes constituídos como divinos e não há contestação, apenas obediência de sua parte", diz Santos. De fato, até hoje nenhuma dessas seitas teve qualquer problema de natureza política com o governo brasileiro. Ao contrário: no Pará, após os últimos choques entre comunidades eclesiais de base e sacerdotes católicos com o governo, pastores da Igreja Assembléia de Deus têm aceitado de bom grado substituir padres cerimônias oficiais e em bênçãos a novas obras públicas.

O sucesso alcançado pelo modelo de evangelização pentecostal é tão evidente que já começa a influenciar algumas igrejas batistas e presbiterianas - e mesmo a Igreja Católica. Neste último caso, o modelo crente influencia sobretudo o Movimento de Renovação Carismática, surgido no começo da década de 60 na Universidade Católica de Notre Dame, nos Estados Unidos. Os "carismáticos", ou "pentecostais católicos", pregam "a renovação do uso dos carismas do Espírito Santo. Ao menos por enquanto, a hierarquia católica não os condenou. Os carismáticos começam a atuar em Campinas, São Paulo, sob a liderança do jesuíta Harold Rahm. Essa influência do pentecostalismo sobre outras religiões é ainda incipiente. Mas configura um indicador da força de uma igreja que, somadas todas as seitas nela incluídas, só é menor que a católica - e promete continuar crescendo.


fonte:http://veja.abril.com.br/arquivo_veja/capa_07101981.shtml

15 de dezembro de 2008

Fogo sem santidade


Nadabe e Abiú, entretanto, caíram mortos perante o SENHOR quando lhe trouxeram uma oferta com fogo profano, no deserto do Sinai. Números 3.4

Creio que a expressão "brincar com fogo" é muito conhecida.. Sempre ouvi da minha mãe a recomendação para não brincar com fogo, pois isso era perigoso.

Não foi diferente com os filhos de Arão, Nadabe e Abíu. Há muito que brincavam de sacerdotes, há muito que pensavam que o fato de fazerem parte da congregação, da liderança religiosa, que por possuírem uma herança religiosa, isso lhes garantiria imunidade. Porém quando se apresentaram diante de Deus com fogo profano, fogo estranho, Aquele que sonda as mentes e corações, que tem o olhos como chama de fogo, que perscruta todas as coisas, os matou.

Há muito fogo no meio do povo de Deus. Mas não é o fogo do Espírito Santo. É fogo estranho, é fogo profano. Há muito fogo no meio da igreja brasileira. Mas, é a fogueira das vaidades, de pregadores que buscam a sua glória e não a do Senhor; que buscam fazer o seu nome conhecido e não o Senhor Jesus Cristo. Que valorizam mais a publicidade do que a piedade.

Há muito gente que prega um evangelho "homeopático" isto é, muito diluído. É um evangelho sem cruz, sem entrega, sem renúncia, sem arrependimento. É um evangelho sem "graça", uma verdadeira des-graça, é um evangelho de troca, de comércio.

Tristemente, há muita gente se iludindo. Há muita gente indo atrás de nuvens sem vento. Por isso, há muita decepção. Há muita gente que é produto de marketing, que faz propaganda enganosa. Tudo para obter sucesso, reconhecimento dos homens, mas, sem reconhecimento de Deus.

Têm fogo mais não têm santidade; conhecem a glória dos homens, mas não conhecem a glória de Deus. A respeito desses, disse Paulo profeticamente: "Algumas pessoas, por cobiçarem o dinheiro, desviaram-se da fé e se atormentaram com muitos sofrimentos. Tendo aparência de piedade, mas negando o seu poder." (I Tm. 6.10 e II Tm. 3.5)



Rev. Kleber Nobre de Queiroz

Pastor da 1ª Igreja Presbiteriana Independente do Natal

13 de dezembro de 2008

Desafios da Liderança Cristã

Pr. Walter Santos Baptista

A verdade é que entramos no século 21 com tremendos desafios para a liderança na igreja. Um deles é, no dizer de Warren Wiersbe uma crise de integridade. E ela atinge o cerne da autoridade e da liderança da Igreja de Jesus Cristo. Wiersbe lembra que Paulo exclamou com as veras da sua alma: "não me envergonho do evangelho!" E sugere que talvez o evangelho afirme: "(mas) eu me envergonho dos cristãos". Quanta coisa tem sido praticada em Nome do evangelho, com aparência de evangelho, com linguagem de evangelho, e tem dado como resultado superficialidade de convicções, confusão mental e espiritual, e enfraquecimento da fé porque os líderes, pastores ou não, têm aberto campo para a falta de ética, para a manipulação dos sentimentos, para a falta de integridade.

Excelente palavra a que traduz o conceito de integridade na língua hebraica: shalom, a qual é vertida para o português com alguns ricos significados, tais como "inteireza, integridade, plenitude, sucesso, salvação, saúde, prosperidade e, também Paz".

Não podemos fazer por menos: o instrumento que Deus tem para unir as pessoas, fatos e acontecimentos é a Igreja de Cristo. O líder há de ser íntegro, "limpo de mãos" (cf. Cl 1.9,10; 2.10; Sl 24.3,4), e "puro de coração" (cf. Sl 24.3,4). O líder cristão deve possuir uma mente como a de Cristo (cf. 1Co 2.16); sua vontade é honesta (Ed 9.6).

O fato é que na época de Jeremias a religião parecia com esta do século 21: o povo dizia crer, mas havia influência secularista, pois o que cria não fazia diferença quanto ao modo de viver. O ideal evangélico está expresso em 2Coríntios 5.17. Além disso, na época de Jeremias, a religião havia se tornado um "Grande negócio". É só conferir com as exclamações do profeta Jeremias que não tolerava os abusos como em
5.30,31 e Lamentações 4.13. Tudo isso é o que A. W. Tozer chamou de "tratamento comercial" do evangelho. Esse mesmo "tratamento comercial" é responsável pelo pragmatismo religioso: "visto que a igreja está cheia, Deus está abençoando", afirmam.

Outro desafio às portas do século 21 são os novos estilos de culto. O que em outros países é denominado histórico ou contemporâneo, em nosso país é objeto da pergunta "tradicional ou renovado?" Outras comunidades têm utilizado a terminologia Culto Jovem contrapondo-se ao estilo recebido de liturgia e rito.

É evidente que o culto é mensurado pela transformação causada nos que cultuam a Deus, e há de ser sempre "em espírito e em verdade" (Jo 4.23,24), ou não há de ser culto. É gratidão, reconhecimento, louvor, e (embora não seja o propósito primário) terapêutico. Ao tempo que o cultuante reconhece o cuidado, carinho e amor de Deus, louva-O e sai aliviado das tensões, dos cuidados e preocupações, terapia grupal no louvor comunitário.

O culto, por ser dinâmico, envolve mudanças, mas envolve igualmente o que nunca deve ser mudado. Deus não muda; as verdades eternas não mudam; a Palavra de Deus não muda. Questiona-se a ressurreição de Jesus Cristo, a realidade do pecado, a necessidade de salvação, e a singularidade da obra redentora de Cristo. Mas o método pode mudar porque não são estáticos, mas se adequam aos tempos e circunstâncias.

A liderança da igreja às vésperas do século 21 há de estar aberta para o novo sem perder a visão do permanente na igreja. Afinal, somos líderes e capacitadores numa comunidade local sem perder a visão do todo da Igreja de Jesus Cristo; e capacitadores e líderes da Igreja de Deus sem perder a visão da comunidade como expressão local dessa Igreja. Numa análise do que chama "a Igreja do Futuro", Ralph W. Neighbour destaca que a "Igreja do Presente" se caracteriza por ser tridimensional: tem largura, comprimento e profundidade, mas não possui poder espiritual para Dar à luz outra geração de cristãos. A "Igreja do Futuro", além dessas dimensões, tem mais uma: altura, ou seja, vive num mundo físico, de três dimensões como a outra, mas vive em acréscimo num ambiente espiritual onde "principados, potestades, príncipes do mundo destas trevas, hostes espirituais da iniqüidade" são diariamente enfrentados.

É o caso, então, de examinar o que Neighbour destaca quanto ao que caracteriza essa Igreja dinâmica, ativa, viva, quadridimensional:

· O Espírito Santo é Quem a dirige. É só permitir que Ele a controle nos termos de Efésios 3.16. A Igreja e sua liderança não são significativas pelo que possuem, mas porque são usadas por Deus.

· Essa Igreja vive na quarta dimensão, sem qualquer alusão à ideologia esposada pelo pastor coreano David (antes Paul) Yongi Cho. Humanos, somos seres tridimensionais; mas como povo de Deus, e ainda mais, liderança desse povo, temos por conceito o sublime e urgente dever de ser quadridimensionais. Afinal, é nessa dimensão que o poder de Deus se revela e Satanás é vencido (cf. Jo 3.3; Ef 2.18,19). Onde se enfatizam as três dimensões, a liderança trabalha para o povo; nas quadridimensionais, a liderança trabalha com o povo.

Não é de estranhar, portanto, que na Igreja onde se enfatizam as quatro dimensões a liderança seja composta por aqueles em quem os milagres de Deus acontecem de modo pessoal, e não de segunda mão. Ver a Deus, por exemplo, é experiência de primeira mão: Noé teve uma experiência sensorial com Deus e tornou-se o arauto divino para o arrependimento do seu povo (Gn 6.13); Abraão viu a Deus, e isso resultou num rompimento com a velha e surrada vida no politeísmo de sua terra natal (Gn 12.1ss); Jacó viu a Deus, e desde esse momento tornou-se "o princípe de Deus" ((israel, cf. Gn 32.22-32); Moisés viu a Deus e isso fez diferença na sua vida (Ex 3. 1-12; 34.29-35); Gideão que teve um encontro transformador com o Todo-Poderoso (Jz 6.11-24); Elias recuperou-se de um processo de depressão para a vitória porque viu a Deus (1Rs 19.8ss); Isaías nunca mais foi o mesmo depois da visão de Deus (Is 6.1ss); foi o caso de Paulo (At 9.1.ss). E "ver a Deus" dá novas energias. Quando se experimenta pessoalmente o poder de Deus, não se necessita ser aguilhoado para crer que todas as coisas são possíveis por meio de Cristo Jesus. Um líder que tenha tido uma visão definida de Deus será capaz de amar, terá todas as condições de repassar esperança, assim como capacidade de comunicar a fé.

Na verdade, só podemos influenciar e liderar outros até o ponto a que nós mesmos chegamos. Nesse ponto, vai se revelar o líder espiritual em contraposição ao líder natural. Segundo Sanders, o paralelo entre estas duas qualidades de líderes é o seguinte:

O Líder Natural

· É autoconfiante
· Conhece os homens
· Toma as próprias decisões
· Usa os próprios métodos
· Gosta de comandar os outros (e ser obedecido)
· É motivado por questões pessoais
· É independente.

Bem diferente, portanto, do Líder Espiritual, o qual:

· Confia em Deus
· Conhece os homens e conhece a Deus
· Faz a vontade de Deus
· É humilde
· Usa o método de Deus
· Busca obedecer a Deus
· É motivado pelo amor a Deus e aos homens
· Dependência de Deus

fonte:http://eticaeliderancacrista.blogspot.com/

Pastor: Seus Problemas e Valor


Um livreto que recebi da RBC (O seu pastor e você) traz uma proposta bem atual: valorizar os verdadeiros pastores.
Richard W. de Haan coloca, logo no início, sobre a relação entre o pastor e sua igreja:

se o pastor é jovem, não tem experiência; se o seu cabelo é grisalho, é velho demais para as pessoas jovens.
se tem 5 ou 6 filhos, tem demais; se não tem nenhum, está dando mau exemplo.
se condena o que é errado, começa a irritar; se não prega contra o pecado, eles reivindicam que ele está se comprometendo.
se prega a verdade, é demasiado ofensivo; se não apresenta "o conselho completo de Deus" é um hipócrita.
se dirige um carro velho, está envergonhando a sua congregação; se compra um novo, está criando afeição pelas coisas deste mundo.
E ele dá muitos outros exemplos...

De Haan se baseia no seguinte trecho do evangelho de João para resgatar a figura do pastor:

Houve um homem enviado por Deus cujo nome era João. Este veio como testemunha para que testificasse a respeito da luz, a fim de todos virem a crer por intermédio dele.Ele não era a luz, mas veio para que testificasse da luz, (Jo 1, 6-8).
um homem: o pastor é um ser humano, tem suas próprias limitações. Mas sua audiência, vez por outra, solta um: "Nosso pastor é bom, mas...".
enviado por Deus: em Paulo, temos "porque não há autoridade que não proceda de Deus". Ainda mais uma autoridade que fala a respeito de Deus...
veio como testemunha para que testificasse a respeito da luz: um ponto também muito importante para os dias atuais. Se o pastor não se coloca sob a autoridade da Bíblia e não proclama a vida de Cristo (e seus valores e sua ética) e a vinda do Reino, então ele não é pastor. Mas, sendo um pastor verdadeiro, ele é mais uma testemunha e a sua igreja deve também testemunhar a luz através de orações, atos e palavras de apoio entre seus membros e seu líder. A congregação é chamada para contribuir com seus conhecimentos e corações, não deixando seu pastor sobrecarregado e sozinho.

Para encerrar:

E hoje, sempre que você encontrar uma igreja com um pastor nascido de novo e dedicado, que se entrega com fidelidade à oração e ao estudo e pregação da Palavra, você vai descobrir uma comunidade de crentes que cresce, espiritual e vibrante. Mas quando uma congregação coloca tais exigências minuciosas sobre o seu líder, de que ele deve estar presente em toda reunião de comitê, em todas as atividades de comunhão e ser ativo em uma miríade de eventos cívicos, a ponto de sua vida de oração e de estudo da Bíblia ser interrompida, você vai encontrar uma igreja letárgica, morna, fria ou morta.

Fonte: http://nanieateologia.blogspot.com/2008/11/pastor-seus-problemas-e-seu-valor.html