16 de dezembro de 2008

A Morte do Púlpito




Por Gutierres Siqueira

A igreja evangélica brasileira vive uma tragédia: a morte do púlpito. Nunca na história do protestantismo houve tanto desprezo pela pregação cristocêntrica, preparada com esmero e preocupada com a correta interpretação das Escrituras. O púlpito tem sido substituído pelo altar dos “levitas” ou para os ”sacrifícios” em dinheiro dos mercenários mercantilistas. A “pregação” da Palavra é, hoje, conceituada como qualquer um que sobe na plataforma e começa a falar ou gritar.

Talvez você, lendo esse texto, pense: - “Na minha igreja a pregação é sempre um espaço grande e recebemos visitas de diversos pregadores”. Esse artigo quer alertar que não basta um tempo grande para a pregação e nem que a plataforma esteja cheia de homens engravatados; antes é necessária a avaliação da qualidade dessa pregação. A pregação precisa ser avaliada, assim como fazia os cristãos bereanos, que por sua nobreza, comparam as homilias de Paulo com as Sagradas Escrituras.
Quais são as causas da “morte do púlpito” no evangelicalismo moderno?

A) Espiritualidade em baixa é igual à pregação sem qualidade.

A pobreza das pregações é evidente nesses últimos dias, pois isso é conseqüência direta da pobreza na vida cristã, pois como dizia Arthur Skevington Wood: “Leva-se uma vida inteira para preparar um sermão, porque é necessária uma vida inteira
para preparar um homem de Deus”. Enquanto a espiritualidade da Igreja estiver em baixa, a pregação, por mais espiritual que ela pareça ser, não passará de palavras jogada ao vento. Não basta uma pregação erudita, mas a erudição deve ser acompanhada de contrição, humildade e oração, pois bem escreveu E. M. Bounds: “Dedique-se ao estudo da santidade de vida universal. Sua utilidade depende disso. Seus sermões duram não mais do que uma ou duas horas; sua vida prega a semana inteira.”
Hoje existem muitas igrejas que oram “bastante”, são campanhas atrás de campanhas, mas essas orações não passam de busca “dos próprios deleites” ou de “determinações” de bênçãos. Ora, a oração sem a busca da face de Deus é uma característica do evangelicalismo contemporâneo. Uma igreja que ora errado, logo terá pregadores pobres.

B) A falta de preparo para pregar.

Erudição, esmero e homilética não são inimigos da espiritualidade. Um mito vigente na igreja brasileira é que quem se prepara muito para pregar, terá uma pregação “não ungida”. Isso é mera desculpa de pregador preguiçoso. Você, leitor, já deve ter visto alguém dizer: - “Quando cheguei aqui não sabia o que ia pregar, mas assim que subi nesse altar o Espírito Santo me revelou outra Palavra” ou “Eu não preparo pregação, o Espírito de Deus me revela”... São frases irresponsáveis e brincam com o Espírito Santo, atribuindo a Ele sua preguiça de passar várias horas em estudo e oração para pregar a Palavra.
Hoje, pregar com esboço em papel é quase um pecado em muitas igrejas; alguns olham com “cara feia” para os que levam algo escrito em sua homilia. Será que não sabem que um dos sermões mais impactantes da história, foi literalmente lido pelo pregador. Esse sermão era “Pecadores na mão de um Deus irado”, que Jonathan Edwards pregou em 08 de Julho de 1741 na capela de Enfield. O biógrafo de Edwards, J. Wilbur Chapman , relatou:

Edwards segurava o manuscrito tão perto dos olhos, que os ouvintes não podiam ver-lhe o rosto. Porém, com a continuação da leitura, o grande audi­tório ficou abalado. Um homem correu para a frente, cla­mando: Sr. Edwards, tenha compaixão! Outros se agarra­ram aos bancos, pensando que iam cair no Inferno. Vi as colunas que eles abraçaram para se firmarem, pensando que o Juízo Final havia chegado.[1]

C) Ter uma visão pragmática sobre a pregação.

Para muitos, uma pregação só é válida se houver resultados. As pessoas não querem saber se o conteúdo da pregação é biblico ou herético, mas preferem esperar pelos resultados propagados pelo pregador. A primeira motivação dos pragmáticos é buscar a praticidade, portanto o pragmatismo é casado com o imediatismo, onde tudo tem quer ser aqui e agora.
O conceito de pregação “ungida” é bem pragmática, pois para boa parte da comunidade evangélica, a boa pregação tem que envolver o emocional, nesse contexto nasce frases do tipo “crente que não faz barulho está com defeito de fabricação”. Se não houver choro, gritos, pulos ou outras manifestações “espirituais”, a pregação perde o seu valor para aos cristãos atuais.
Pregadores pragmáticos gostam de ver seus ouvintes interagindo exageradamente no culto. É constante dos pregadores mandarem as pessoas glorificarem e até falar em línguas. Nesses cultos a justificativa para essas ordens é que “quando a glória da Igreja sobe, a glória do céu desce”. Não há respaldo bíblico para esse tipo de pensamento que é passado como algo bíblico. A emoção e as experiências fazem parte da vida cristã, mas não devem normatizar a liturgia ou direcionar os crentes, pois os verdadeiros cristãos tem a Palavra de Deus, e somente Ela, como regra de fé e prática.

D) Pastor-professor X pregador-ator

Eis o dilema existente no evangelicalismo moderno. O pastor-mestre foi substituído pelo pregador-carismático-ator. O mestre que orientava a sua congregação nas Sagradas Letras, sendo um homem de estudos e contemplativo, era característico de piedosos servos de Deus, como Charles Spurgeon, Jonathan Edwards, D. L. Moody etc.
O púlpito tem sido morto pelo estrelismo de pastores-atores, que confundem a plataforma da igreja com um palco para entretenimento, são pessoas que pregam o que a congregação quer ouvir e fazem de seus carismas uma imposição de sua pessoa. Quem estuda a história da igreja, verá que os piedosos servos de Deus, da Reforma as Grande Despertamento do século 18, eram homens de grande interesse pela pregação expositiva, onde o texto fala por si só. A partir do século 19, os sermões são cada vez mais temáticos e os pregadores mais articulados no estrelismo.
O Movimento Pentecostal peca, e gravemente, em não valorizar os sermões bem preparados e articulados, ungidos pelo Espírito Santo, para edificação da congregação. Em uma piedade aparente, muito exaltam a ignorância como virtude, justificando os sermões artificiais, sem profundidade e recheados de chicles, modismos e até heresias.

Referência Bibliográfica:


1. BOYER, Orlando. Heróis da Fé. 15 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1999, p. 03.

O AVANÇO DOS CRENTES - CAPA da revista VEJA em 1981- Será que mudamos em algo?


O avanço dos crentes

Sob a luz do Espírito Santo e
com um código que proíbe o fumo
e a bebida, o pentecostalismo já
converteu 8,5 milhões de brasileiros


O alagoano Manoel Raulino do Nascimento, de 46 anos, estivador no porto de Santos, fumava e bebia regularmente até a semana passada, quando ouviu a voz do missionário Manoel de Mello, fundador da Igreja Evangélica Pentecostal O Brasil para Cristo, num disco em que relata sua peregrinação por Jerusalém. Um brilho nos olhos, Nascimento avançou sobre um maço de cigarros, jogou-o sobre as brasas do fogão a lenha, agarrou a garrafa de cachaça sempre ao alcance da mão e entornou na pia seu conteúdo. Ele ficara impressionado sobretudo com a descrição do túmulo de Jesus Cristo, visitado pelo missionário durante os sete dias de jejum e oração a que se submeteu em Jerusalém. E resolveu incorporar-se ao rebanho de 8,5 milhões de pentecostais, ou "crentes", espalhados pelo país, segundo cálculos da Sociedade Bíblica do Brasil e da Confederação Evangélica do Brasil.

A conversão de Nascimento tornará algo mais árida sua vida terrena: ele terá de vestir o apertado figurino usado por seus companheiros de fé. Os pentecostais - que devem seu nome ao dia de Pentecostes, quando o Espírito Santo teria aparecido aos apóstolos na forma de línguas de fogo - não podem dançar, não vão ao teatro nem freqüentam sessões de cinema. Também não usam roupa de banho, lêem quase que exclusivamente livros religiosos, rezam pelo menos duas vezes ao dia e entregam à seita a que pertencem o dízimo - 10% seus rendimentos mensais. São muito severos na educação dos filhos e de um rigor absoluto no que se refere à fidelidade conjugal. Enfim, só admitem o sexo como instrumento de procriação.

Apesar dessa escassez de atrativos mundanos, o número de pentecostais tem acusado saltos espantosos nas últimas décadas - e é provável que os cálculos disponíveis no momento sejam amplamente superados pelos resultados do censo de 1980. Afinal, só a Igreja Evangélica Assembléia de Deus, a maior das diferentes seitas pentecostais catalogadas no país, pastoreia 2,5 milhões de fiéis. E a Igreja O Brasil para Cristo, a segunda em importância, guarda na sede nacional, em São Paulo, um fichário com 1 milhão de fiéis.

Ao pé da letra - Essa imensa família descende do minguado grupo de evangelizadores americanos que, em 1910, desembarcaram no município paranaense de Santo Antônio da Platina. " O povo achava que a gente não tinha a cabeça no lugar", lembra Maria Silveira Mascaro, filha de Felício Mascaro, o primeiro cidadão brasileiro convertido ao pentecostalismo. "Eles eram exóticos demais para preocupar as igrejas protestantes tradicionais", explica Waldo César, autor de "Urbanização e religiosidade popular" (Revista Vozes, n.º 7). Compõem o protestantismo tradicional - detectado no Brasil há 150 anos, a partir sobretudo da imigração alemã - batistas, presbiterianos, metodistas, episcopais, congregacionais e luteranos. Entre estes figura, por exemplo. o ex-presidente da República Ernesto Geisel.

Os crentes se consideram protestantes, mas diferem de seus irmãos de credo principalmente por interpretar a Bíblia ao pé da letra e entender que tudo o que ocorre de bom no mundo é obra do Espírito Santo. Os pentecostais acreditam na iminência da vinda de Jesus Cristo ao planeta, "para o estabelecimento de um reinado de 1.000 anos na Terra", e criticam o que chamam de "mundanismo" dos demais protestantes. Sua pregação parece ter dado certo desde o começo: dez anos depois do desembarque dos pioneiros evangelizadores em Santo Antônio da Platina, os pentecostais já haviam erguido cinqüenta templos em solo brasileiro.

A semente caiu em solo fértil. Os templos eram 267, em 1930; 912, em 1940; 1.929, em 1950; 4.583, em 1960; e 11.118 em 1970. Hoje, há 26.000 templos no país, mais de 1.000 deles em São Paulo. Nesse mesmo perímetro urbano da maior cidade do maior país católico do mundo, o Vaticano comanda só 353 paróquias e 400 igrejas e capelas. Os templos pentecostais são freqüentemente acanhados, quase sempre pintados de azul e branco, e ficam engastados na periferia das cidades. Multiplicam-se num processo semelhante ao da divisão celular: um pastor com espírito de liderança e algum carisma abandona uma igreja já consolidada, cuja liderança dividia com outros pastores, e funda seu próprio templo. Muitas prosperam também economicamente. A Igreja de Nova Vida, uma pequena seita, ergueu no bairro carioca de Botafogo um templo de sete andares, com refrigeração interna, mármore italiano e vagas na garagem para cinqüenta carros.

Empregadas exemplares - Em 1930, os pentecostais representavam apenas 9,5% dos protestantes brasileiros. Um recente levantamento do sociólogo Francisco Cartaxo Rolim, da Universidade Federal Fluminense, constatou que eles somam agora 70% desse total. Rolim descobriu, também, que a maioria dos convertidos não foi capturada ao protestantismo tradicional. Ele encontrou 57% de ex-católicos, 4% de antigos umbandistas, 3% de batistas, 2% não tinham religião anterior, 1% haviam sido espíritas e o resto saíra do próprio protestantismo. "Os pentecostais são, geralmente, pessoas que migraram do campo para a cidade", diz Haroldo Murá, 41 anos, editor do jornal católico A Voz do Paraná, de Curitiba, e um estudioso da religiosidade popular. "Na cidade, o camponês perde os amigos, os pontos de apoio, larga os tênues vínculos que o uniam ao catolicismo", pondera Murá. "Precisa de calor humano, de solidariedade. Assim, torna-se presa fácil dos valores pentecostais."

Convertidos à nova fé os crentes ampliam, no plano espiritual, a esperança de salvação e, no material, a chance de conseguir certos empregos. "As empregadas crentes são mais recatadas, não têm vícios, não saem à noite, não faltam ao serviço", depõe Lucy Dias de Lima, proprietária da Lovelucy, uma das mais procuradas agências de empregadas domésticas de São Paulo. Mas os templos das seitas vão progressivamente deixando de ser freqüentados apenas por vidas apagadas que subitamente se acendem com a luz divina. A Terceira Igreja do Evangelho Quadrangular, em Curitiba, hasteada no bairro de Água Verde, tipicamente de classe média, tem convertido profissionais liberais, médicos, advogados, engenheiros, funcionários públicos graduados e, de uns tempos para cá, juízes de Direito.

Um desses magistrados é Altair Costa Souza, 51 anos, cinco filhos, que acaba de se aposentar como titular da 4ª Vara da Família de Curitiba. Filho de católicos, ele se converteu ao pentecostalismo ao visitar ocasionalmente o templo da Igreja do Evangelho Quadrangular. Em 1980 foi sagrado pastor e, no início deste ano, abriu seu próprio templo. "Depois que aceitei Jesus como único e suficiente salvador", diz Souza, "nunca me faltou a paz." Ex-freqüentador de colunas sociais, o juiz hoje anda com uma Bíblia permanentemente a tiracolo e ganhou fama no Tribunal de Justiça por conseguir a maior média de reconciliações entre casais prestes a separar-se.

Animadores de auditório - Magistrados, de qualquer forma, são ainda poucos entre os crentes, um universo em que tanto fiéis como pastores têm geralmente modestíssima posição social. Aos pastores não se cobra diploma algum - basta que saibam ler e escrever. O resto fica por conta do Espírito Santo, que faz seus devotos compreenderem tudo quanto está dito na Bíblia e compensa eventuais deficiências culturais. Tecnicamente, o pastor figura no topo da hierarquia pentecostal, alguns degraus acima de presbíteros, diáconos e auxiliares leigos. O pastor goza de autonomia quase completa em seu templo e só está impedido de trocar-lhe a denominação, vendê-lo ou consagrar ministros. Essas são atribuições exclusivas da congregação estadual de cada seita, uma espécie de colégio de pastores. A liturgia tem pouca rigidez, circunstância de que se valem os pastores para comportar-se à maneira de animadores de auditório. São diálogos sempre previsíveis:

- Se Jesus é por nós... - sugere o pastor.

- Quem será contra nós? - devolve o rebanho.

Estabelecida a empatia, pastores e fiéis protagonizam surpreendentes happenings pentecostais. Falam línguas estranhas (o dom da "glossolália", conferido aos apóstolos em Pentecostes), às vezes inexistentes e ininteligíveis. Jogam-se no chão, incorporam e desincorporam demônios, e, sobretudo, contracenam em curas milagrosas.

Prioridade para os ciganos - Bíblia nas mãos, pregadores pentecostais se incorporam diariamente à paisagem das praças mais movimentadas das grandes capitais - os homens vestindo invariavelmente paletó e gravata, as mulheres sem qualquer pintura e metidas em vestidos fora de moda. Depois das praças, estão nos presídios os palcos favoritos dos pregadores. Até há dois anos, o ex-presidiário Sebastião Oscar, convertido à Igreja do Evangelho Quadrangular quando ainda estava na cadeia, era o único pregador pentecostal a visitar os 900 presos da Penitenciária de Piraquara, a 25 quilômetros de Curitiba. Agora, divide seu rebanho com cinco pastores de seitas concorrentes.

Os ciganos também têm prioridade nesse esforço de catequese. A Obra Missionária Cigana, fundada em Salvador pelo pastor Eraldo Alves dos Santos, já batizou - sempre por imersão, como manda a liturgia - quatro ciganos, os primeiros remanescentes dessa raça convertidos ao pentecostalismo na América do Sul. "Ao todo já contatamos uns 1.000 ciganos", calcula o pastor. Mais: até o fim do ano será lançada urna ofensiva destinada a "levar os ensinamentos de Jesus" a ciganos de Alagoas, Sergipe, Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná.

Essa ofensiva certamente recorrerá a programas de rádio, hoje o mais poderoso instrumento de evangelização usado pelos pentecostais. Há mais de 200 programas convencionais - em que um pastor reza e põe no ar "testemunhos" de curas - em pelo menos 100 emissoras de rádio de todo o Brasil. Mas começam a ser inovados, como já acontece na Rádio Continental do Recife. Em vez de sucessos do momento, a parte musical compõe-se de salmos, solos de harpa ou piano, hinos religiosos de cantores obscuros. Enfim, patrocinadores do gênero não costumam figurar na programação normal. Assim, fabricantes de cigarros e bebidas cedem espaço a patrocinadores com nomes tão evangélicos quanto os artigos que vendem: "A Trombeta de Sião", "Galeria Brilho Celeste" ou "Aurora do Céu".

Visões e profecias - O investimento que mais dividendos rende aos pentecostais, entretanto, é a doutrina da cura peIa fé. Algumas seitas, como a Igreja Deus É Amor, liderada pelo missionário David Miranda - "missionário" é o nome dado ao pastor que cria uma seita -, denunciam com espalhafato a possibilidade de curas divinas. Logo à entrada do templo da sede nacional da Igreja Deus É Amor, em São Paulo, há uma parede ornamentada por centenas de muletas e aparelhos ortopédicos.

Em todo culto pentecostal, há sempre um horário reservado aos chamados "testemunhos": qualquer fiel pode agarrar o microfone e relatar curas maravilhosas, visões e até profecias. "As pessoas que vêm aqui saram, engordam, progridem na vida, pagam mais comida para os outros", diz o garçom Manoel Nino Sobrinho, adepto da Igreja Deus É Amor, no Rio de Janeiro. Para o crente, a cura pela fé é algo tão singelo quanto reduzir uma dor de cabeça com a ingestão de uma aspirina.

Em 1974, a Igreja Deus É Amor preparou a inauguração de seu primeiro templo em Curitiba anunciando pela Rádio Marumby, a cada 15 minutos, "a falência dos hospitais de Curitiba após a nossa chegada". Naturalmente, nenhum hospital fechou por falta de pacientes; o que houve foi um áspero atrito com o Conselho Regional de Medicina e o arcebispo católico de Curitiba. Os crentes, na verdade, votam uma pesada desconfiança à ciência médica. Em junho passado, o pastor Luís Carlos Saladar, da Igreja Independente, foi expulso da Santa Casa de Misericórdia de Livramento, na fronteira do Rio Grande do Sul com o Uruguai, depois de pilhado na tentativa de convencer uma paciente a abandonar o hospital e recorrer ao "pronto-socorro do Espírito Santo".

Desencanto com o Concílio - A Igreja Católica acompanha com atenção e certa inquietude a escalada do pentecostalismo - uma cópia da pesquisa de Rolim, por exemplo, estacionou recentemente na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Brasília - também porque, ao contrário dos protestantes tradicionais, a maioria das seitas pentecostais quer distância do ecumenismo vaticano. "O movimento pentecostal tem sido objeto de discussões em nossas assembléias-, informa dom Avelar Brandão Vilela, cardeal-arcebispo de Salvador e primaz do Brasil. O que mais intriga a CNBB é o fato de um número crescente de brasileiros, oriundos principalmente das classes menos favorecidas, entregar-se a seitas que considera à margem da realidade política, social e econômica do país.

"Os pentecostais afirmam que não é o homem que transforma a sociedade", diz Rolim. "Para eles, Deus é quem age no mundo. A sociedade se transformará se cada um se entregar a Jesus Cristo." Rolim detectou entre os católicos convertidos ao pentecostalismo um certo desencanto com a tendência que levou a Igreja Católica a colocar em segundo plano, depois do Concilio Vaticano II, a devoção aos santos, às velas, às procissões, enfim, alguns dos mais antigos símbolos da religiosidade popular. "O pentecostalismo supre essa ausência porque mexe com o lado emocional dos fiéis", constata Rolim.

Em 1976, o falecido professor Douglas Teixeira Monteiro, da Universidade de São Paulo, observou que a Igreja Católica enfrentava "uma situação de mercado onde tem que disputar fiéis em condições de igualdade. às vezes até de inferioridade, notadamente nos grandes centros urbanos". Os crentes, todavia, encaram com naturalidade o milagre da multiplicação dos fiéis. "A expansão pentecostal é um dos muitos sinais de que estamos nos aproximando do fim do mundo", interpreta o pastor Adão Garcia, da Igreja Evangélica Pentecostal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre. "A Igreja Católica esqueceu a assistência espiritual."

Obediência à autoridade - É certamente um exagero deduzir que a Igreja Católica perde fiéis apenas porque se dessacraliza. Mas é incontestável que, num momento de crescente polarização política de bispos e padres, os pentecostais se multiplicam oferecendo exclusivamente as vantagens da vida eterna. A opção da Igreja Católica pelos pobres terá certamente reforçado a fé em grandes contingentes de praticantes da classe média. Mas, para muitos pobres, essa opção só adquire contornos práticos se lhes

dá vantagens materiais ou espirituais. É aí que a dessacralização católica, independente de seu conteúdo, torna fértil o campo dos pentecostais, pois o fato de um bispo defender os pobres não é suficiente para torná-los menos pobres. O pastor, ao contrário, oferece exclusivamente o reino dos céus, permitindo aos pobres pensarem que o dia de sua riqueza, mesmo em outra vida, está mais próximo.

O professor Áureo Bispo dos Santos, da Universidade Federal da Bahia, lembra que os pentecostais são historicamente obedientes à autoridade, seja qual for a ideologia dos detentores do poder. "Aceitamos poderes constituídos como divinos e não há contestação, apenas obediência de sua parte", diz Santos. De fato, até hoje nenhuma dessas seitas teve qualquer problema de natureza política com o governo brasileiro. Ao contrário: no Pará, após os últimos choques entre comunidades eclesiais de base e sacerdotes católicos com o governo, pastores da Igreja Assembléia de Deus têm aceitado de bom grado substituir padres cerimônias oficiais e em bênçãos a novas obras públicas.

O sucesso alcançado pelo modelo de evangelização pentecostal é tão evidente que já começa a influenciar algumas igrejas batistas e presbiterianas - e mesmo a Igreja Católica. Neste último caso, o modelo crente influencia sobretudo o Movimento de Renovação Carismática, surgido no começo da década de 60 na Universidade Católica de Notre Dame, nos Estados Unidos. Os "carismáticos", ou "pentecostais católicos", pregam "a renovação do uso dos carismas do Espírito Santo. Ao menos por enquanto, a hierarquia católica não os condenou. Os carismáticos começam a atuar em Campinas, São Paulo, sob a liderança do jesuíta Harold Rahm. Essa influência do pentecostalismo sobre outras religiões é ainda incipiente. Mas configura um indicador da força de uma igreja que, somadas todas as seitas nela incluídas, só é menor que a católica - e promete continuar crescendo.


fonte:http://veja.abril.com.br/arquivo_veja/capa_07101981.shtml

15 de dezembro de 2008

Fogo sem santidade


Nadabe e Abiú, entretanto, caíram mortos perante o SENHOR quando lhe trouxeram uma oferta com fogo profano, no deserto do Sinai. Números 3.4

Creio que a expressão "brincar com fogo" é muito conhecida.. Sempre ouvi da minha mãe a recomendação para não brincar com fogo, pois isso era perigoso.

Não foi diferente com os filhos de Arão, Nadabe e Abíu. Há muito que brincavam de sacerdotes, há muito que pensavam que o fato de fazerem parte da congregação, da liderança religiosa, que por possuírem uma herança religiosa, isso lhes garantiria imunidade. Porém quando se apresentaram diante de Deus com fogo profano, fogo estranho, Aquele que sonda as mentes e corações, que tem o olhos como chama de fogo, que perscruta todas as coisas, os matou.

Há muito fogo no meio do povo de Deus. Mas não é o fogo do Espírito Santo. É fogo estranho, é fogo profano. Há muito fogo no meio da igreja brasileira. Mas, é a fogueira das vaidades, de pregadores que buscam a sua glória e não a do Senhor; que buscam fazer o seu nome conhecido e não o Senhor Jesus Cristo. Que valorizam mais a publicidade do que a piedade.

Há muito gente que prega um evangelho "homeopático" isto é, muito diluído. É um evangelho sem cruz, sem entrega, sem renúncia, sem arrependimento. É um evangelho sem "graça", uma verdadeira des-graça, é um evangelho de troca, de comércio.

Tristemente, há muita gente se iludindo. Há muita gente indo atrás de nuvens sem vento. Por isso, há muita decepção. Há muita gente que é produto de marketing, que faz propaganda enganosa. Tudo para obter sucesso, reconhecimento dos homens, mas, sem reconhecimento de Deus.

Têm fogo mais não têm santidade; conhecem a glória dos homens, mas não conhecem a glória de Deus. A respeito desses, disse Paulo profeticamente: "Algumas pessoas, por cobiçarem o dinheiro, desviaram-se da fé e se atormentaram com muitos sofrimentos. Tendo aparência de piedade, mas negando o seu poder." (I Tm. 6.10 e II Tm. 3.5)



Rev. Kleber Nobre de Queiroz

Pastor da 1ª Igreja Presbiteriana Independente do Natal

13 de dezembro de 2008

Desafios da Liderança Cristã

Pr. Walter Santos Baptista

A verdade é que entramos no século 21 com tremendos desafios para a liderança na igreja. Um deles é, no dizer de Warren Wiersbe uma crise de integridade. E ela atinge o cerne da autoridade e da liderança da Igreja de Jesus Cristo. Wiersbe lembra que Paulo exclamou com as veras da sua alma: "não me envergonho do evangelho!" E sugere que talvez o evangelho afirme: "(mas) eu me envergonho dos cristãos". Quanta coisa tem sido praticada em Nome do evangelho, com aparência de evangelho, com linguagem de evangelho, e tem dado como resultado superficialidade de convicções, confusão mental e espiritual, e enfraquecimento da fé porque os líderes, pastores ou não, têm aberto campo para a falta de ética, para a manipulação dos sentimentos, para a falta de integridade.

Excelente palavra a que traduz o conceito de integridade na língua hebraica: shalom, a qual é vertida para o português com alguns ricos significados, tais como "inteireza, integridade, plenitude, sucesso, salvação, saúde, prosperidade e, também Paz".

Não podemos fazer por menos: o instrumento que Deus tem para unir as pessoas, fatos e acontecimentos é a Igreja de Cristo. O líder há de ser íntegro, "limpo de mãos" (cf. Cl 1.9,10; 2.10; Sl 24.3,4), e "puro de coração" (cf. Sl 24.3,4). O líder cristão deve possuir uma mente como a de Cristo (cf. 1Co 2.16); sua vontade é honesta (Ed 9.6).

O fato é que na época de Jeremias a religião parecia com esta do século 21: o povo dizia crer, mas havia influência secularista, pois o que cria não fazia diferença quanto ao modo de viver. O ideal evangélico está expresso em 2Coríntios 5.17. Além disso, na época de Jeremias, a religião havia se tornado um "Grande negócio". É só conferir com as exclamações do profeta Jeremias que não tolerava os abusos como em
5.30,31 e Lamentações 4.13. Tudo isso é o que A. W. Tozer chamou de "tratamento comercial" do evangelho. Esse mesmo "tratamento comercial" é responsável pelo pragmatismo religioso: "visto que a igreja está cheia, Deus está abençoando", afirmam.

Outro desafio às portas do século 21 são os novos estilos de culto. O que em outros países é denominado histórico ou contemporâneo, em nosso país é objeto da pergunta "tradicional ou renovado?" Outras comunidades têm utilizado a terminologia Culto Jovem contrapondo-se ao estilo recebido de liturgia e rito.

É evidente que o culto é mensurado pela transformação causada nos que cultuam a Deus, e há de ser sempre "em espírito e em verdade" (Jo 4.23,24), ou não há de ser culto. É gratidão, reconhecimento, louvor, e (embora não seja o propósito primário) terapêutico. Ao tempo que o cultuante reconhece o cuidado, carinho e amor de Deus, louva-O e sai aliviado das tensões, dos cuidados e preocupações, terapia grupal no louvor comunitário.

O culto, por ser dinâmico, envolve mudanças, mas envolve igualmente o que nunca deve ser mudado. Deus não muda; as verdades eternas não mudam; a Palavra de Deus não muda. Questiona-se a ressurreição de Jesus Cristo, a realidade do pecado, a necessidade de salvação, e a singularidade da obra redentora de Cristo. Mas o método pode mudar porque não são estáticos, mas se adequam aos tempos e circunstâncias.

A liderança da igreja às vésperas do século 21 há de estar aberta para o novo sem perder a visão do permanente na igreja. Afinal, somos líderes e capacitadores numa comunidade local sem perder a visão do todo da Igreja de Jesus Cristo; e capacitadores e líderes da Igreja de Deus sem perder a visão da comunidade como expressão local dessa Igreja. Numa análise do que chama "a Igreja do Futuro", Ralph W. Neighbour destaca que a "Igreja do Presente" se caracteriza por ser tridimensional: tem largura, comprimento e profundidade, mas não possui poder espiritual para Dar à luz outra geração de cristãos. A "Igreja do Futuro", além dessas dimensões, tem mais uma: altura, ou seja, vive num mundo físico, de três dimensões como a outra, mas vive em acréscimo num ambiente espiritual onde "principados, potestades, príncipes do mundo destas trevas, hostes espirituais da iniqüidade" são diariamente enfrentados.

É o caso, então, de examinar o que Neighbour destaca quanto ao que caracteriza essa Igreja dinâmica, ativa, viva, quadridimensional:

· O Espírito Santo é Quem a dirige. É só permitir que Ele a controle nos termos de Efésios 3.16. A Igreja e sua liderança não são significativas pelo que possuem, mas porque são usadas por Deus.

· Essa Igreja vive na quarta dimensão, sem qualquer alusão à ideologia esposada pelo pastor coreano David (antes Paul) Yongi Cho. Humanos, somos seres tridimensionais; mas como povo de Deus, e ainda mais, liderança desse povo, temos por conceito o sublime e urgente dever de ser quadridimensionais. Afinal, é nessa dimensão que o poder de Deus se revela e Satanás é vencido (cf. Jo 3.3; Ef 2.18,19). Onde se enfatizam as três dimensões, a liderança trabalha para o povo; nas quadridimensionais, a liderança trabalha com o povo.

Não é de estranhar, portanto, que na Igreja onde se enfatizam as quatro dimensões a liderança seja composta por aqueles em quem os milagres de Deus acontecem de modo pessoal, e não de segunda mão. Ver a Deus, por exemplo, é experiência de primeira mão: Noé teve uma experiência sensorial com Deus e tornou-se o arauto divino para o arrependimento do seu povo (Gn 6.13); Abraão viu a Deus, e isso resultou num rompimento com a velha e surrada vida no politeísmo de sua terra natal (Gn 12.1ss); Jacó viu a Deus, e desde esse momento tornou-se "o princípe de Deus" ((israel, cf. Gn 32.22-32); Moisés viu a Deus e isso fez diferença na sua vida (Ex 3. 1-12; 34.29-35); Gideão que teve um encontro transformador com o Todo-Poderoso (Jz 6.11-24); Elias recuperou-se de um processo de depressão para a vitória porque viu a Deus (1Rs 19.8ss); Isaías nunca mais foi o mesmo depois da visão de Deus (Is 6.1ss); foi o caso de Paulo (At 9.1.ss). E "ver a Deus" dá novas energias. Quando se experimenta pessoalmente o poder de Deus, não se necessita ser aguilhoado para crer que todas as coisas são possíveis por meio de Cristo Jesus. Um líder que tenha tido uma visão definida de Deus será capaz de amar, terá todas as condições de repassar esperança, assim como capacidade de comunicar a fé.

Na verdade, só podemos influenciar e liderar outros até o ponto a que nós mesmos chegamos. Nesse ponto, vai se revelar o líder espiritual em contraposição ao líder natural. Segundo Sanders, o paralelo entre estas duas qualidades de líderes é o seguinte:

O Líder Natural

· É autoconfiante
· Conhece os homens
· Toma as próprias decisões
· Usa os próprios métodos
· Gosta de comandar os outros (e ser obedecido)
· É motivado por questões pessoais
· É independente.

Bem diferente, portanto, do Líder Espiritual, o qual:

· Confia em Deus
· Conhece os homens e conhece a Deus
· Faz a vontade de Deus
· É humilde
· Usa o método de Deus
· Busca obedecer a Deus
· É motivado pelo amor a Deus e aos homens
· Dependência de Deus

fonte:http://eticaeliderancacrista.blogspot.com/

Pastor: Seus Problemas e Valor


Um livreto que recebi da RBC (O seu pastor e você) traz uma proposta bem atual: valorizar os verdadeiros pastores.
Richard W. de Haan coloca, logo no início, sobre a relação entre o pastor e sua igreja:

se o pastor é jovem, não tem experiência; se o seu cabelo é grisalho, é velho demais para as pessoas jovens.
se tem 5 ou 6 filhos, tem demais; se não tem nenhum, está dando mau exemplo.
se condena o que é errado, começa a irritar; se não prega contra o pecado, eles reivindicam que ele está se comprometendo.
se prega a verdade, é demasiado ofensivo; se não apresenta "o conselho completo de Deus" é um hipócrita.
se dirige um carro velho, está envergonhando a sua congregação; se compra um novo, está criando afeição pelas coisas deste mundo.
E ele dá muitos outros exemplos...

De Haan se baseia no seguinte trecho do evangelho de João para resgatar a figura do pastor:

Houve um homem enviado por Deus cujo nome era João. Este veio como testemunha para que testificasse a respeito da luz, a fim de todos virem a crer por intermédio dele.Ele não era a luz, mas veio para que testificasse da luz, (Jo 1, 6-8).
um homem: o pastor é um ser humano, tem suas próprias limitações. Mas sua audiência, vez por outra, solta um: "Nosso pastor é bom, mas...".
enviado por Deus: em Paulo, temos "porque não há autoridade que não proceda de Deus". Ainda mais uma autoridade que fala a respeito de Deus...
veio como testemunha para que testificasse a respeito da luz: um ponto também muito importante para os dias atuais. Se o pastor não se coloca sob a autoridade da Bíblia e não proclama a vida de Cristo (e seus valores e sua ética) e a vinda do Reino, então ele não é pastor. Mas, sendo um pastor verdadeiro, ele é mais uma testemunha e a sua igreja deve também testemunhar a luz através de orações, atos e palavras de apoio entre seus membros e seu líder. A congregação é chamada para contribuir com seus conhecimentos e corações, não deixando seu pastor sobrecarregado e sozinho.

Para encerrar:

E hoje, sempre que você encontrar uma igreja com um pastor nascido de novo e dedicado, que se entrega com fidelidade à oração e ao estudo e pregação da Palavra, você vai descobrir uma comunidade de crentes que cresce, espiritual e vibrante. Mas quando uma congregação coloca tais exigências minuciosas sobre o seu líder, de que ele deve estar presente em toda reunião de comitê, em todas as atividades de comunhão e ser ativo em uma miríade de eventos cívicos, a ponto de sua vida de oração e de estudo da Bíblia ser interrompida, você vai encontrar uma igreja letárgica, morna, fria ou morta.

Fonte: http://nanieateologia.blogspot.com/2008/11/pastor-seus-problemas-e-seu-valor.html

26 de novembro de 2008

Breve Dicionário neocrentecostal

Fé - Crer absolutamente naquilo que o pastor/apóstolo diga.

Amor - Atender o chamado do líder de louvor e dizer para a pessoa ao seu lado: "Eu te amo em Cristo Jesus".

Promessa - Carro, casa, dinheiro.

Evangelismo - Mandar alguém ir à igreja.

Adorar - Chorar durante horas cantando algum tipo de música lenta e repetitiva.

Fidelidade - Qualidade mostrada no ato de dizimar/ofertar mensalmente.

Levita - Pseudo-músico que se acha superior aos demais por cantar/tocar.

Perdão - Ficar fora de comunhão durante um tempo variável de acordo com o pecado.

Comunhão - Não ter ninguém te acusando ou falando a seu respeito.

Profeta - Expert em leitura corporal e oratória.

Deus - O cara responsável por abençoar quando mandado.

Espírito Santo - Ser que faz as pessoas caírem e receberem novas unções.

Jesus - Um cara que fez o oposto do que deve-se fazer.

Inferno - Lugar para onde os que não estão na igreja(templo) irão.

Diabo - O culpado por tudo de ruim que aconteça.

Esperança - Ser tão rico quanto os apóstolos da TV.

Salvação - Alcançada indo à igreja e sendo fiel (vide fidelidade).

Unção - Algo que se recebe para se sentir superior aos outros.

Abençoado - Ser cabeça e não cauda.

Pecado - Infração cometida contra a igreja e variável com a cartilha.

Igreja - Templo luxuoso que exige fidelidade para sua manutenção.


fonte:http://rapensando.blogspot.com/

Senhor, Obrigado pelo herege!!!

Elienai Cabral Junior


Minha admiração pelos hereges é indisfarçável. Eles mexem com os meus desejos mais escondidos. São capazes de me sensibilizar mais que quaisquer outros. Falam a minha alma. Adrenalizam meus pensamentos. Suas déias desconcertantes é que me fazem continuar vivo.

Eu confesso, preciso de suas heresias como da endorfina espalhada pelo meu corpo ao fim de cada corrida. Como um prazer vital. A estética da alma. A cada exercício fico suado e mais feliz. A cada heresia, desestabilizado e mais humano.



Mas antes que minha declaração de amor e gratidão aos hereges seja confundida com um delírio, preciso expor meus motivos e compreensões. Estou certo de que ganharei sua companhia em meus afetos.




Heresia é uma escolha e essa é a sua gravidade. A conceituação não é aleatória. A palavra grega para a ‘heresia’ que conhecemos é /haíresis/, seu significado literal é ‘escolha’. Heresia é como chamamos algo que não deveria ser escolhido como algo a dizer. Herege é o que faz a escolha que, mesmo podendo ser feita, não deveria.




Mas heresia nunca é um nome que quem nela incorre se dá. É uma palavra que apenas se encontra na boca de quem se sente contrariado, nunca na boca de quem contraria. Herege não é como quer se sentir quem discorda de um pensamento.

Herege é como quem sofre a oposição de idéias precisa que se sinta quem ousa fazê-lo. Porque a escolha feita por quem sofre a sentença de que é um herege é a escolha de não se submeter à hegemonia representada por quem pode assim sentenciar. Portanto, heresia não é uma questão sobre a verdade das coisas. Mas sobre quem manda de verdade.


Rubem Alves fala dos fortes e dos fracos como uma relação marcada pela heresia. “A heresia é a voz dos fracos. Do ponto de vista dos sacerdotes, os profetas sempre foram hereges. Do ponto de vista dos fariseus e escribas, Jesus foi também herege. E, como as Escrituras sistematicamente se situam ao lado dos fracos contra os fortes, é melhor dar mais atenção às heresias do que às ortodoxias.

É preciso situar a heresia, portanto, nas relações de poder. Quem levanta a suspeita de heresia não é quem está ingenuamente interessado na verdade, mas quem precisa se livrar de alguém que ameaça sua condição de dono da razão. O herege assalta o que se sente no direito de ter a última palavra.


Quem se sente com a última palavra é aquele que pratica o poder mais que o pensamento. Quem pratica o poder busca sempre se afirmar em detrimento do outro, do diferente. É preciso esvaziar de valor aquele que ameaça sua condição de superioridade.


Declarar que alguém é um herege é bem mais que dizer que ele discorda de suas idéias. Mas é fazer convergir sobre ele toda a violência acumulada em uma sociedade por seus medos, culpas, inadequações, acidentes, injustiças, frustrações. O herege é como o “bode expiatório” de René Girard. Alguém sobre quem incide a violência de todos em um acordo social silencioso, em uma compensação inconsciente.

Como aconteceu na tradição cristã com a personagem Judas Escariotes, aquele que traiu. Todos vacilaram e negaram fidelidade a Jesus, mas apenas Judas encarnou, no imaginário coletivo, o mal da humanidade. Como as bruxas na Idade Média, responsabilizadas por todas as desventuras de uma sociedade, eliminá-las era livrar-se do próprio mal humano.


Com o herege parece ser repetida a mesma mística coletiva e
inconsciente. Ele é o culpado pela instabilidade da vida. Declará-lo
herege é eliminá-lo de sua influência no destino de uma comunidade, como quem se livra do próprio mal da humanidade. Em uma sociedade ocidental do século XXI a fogueira tornou-se simbólica, mas não menos violenta. Destruído em sua integridade, o herege tem sua humanidade apagada. Suas palavras são pulverizadas e perdem o poder legítimo de interação.


Alguém sob a suspeita de heresia é sempre ouvido por todos com pedras nas mãos. Como nas cenas freqüentes dos evangelhos, quando os religiosos acusavam Jesus de blasfemar contra Deus ao se afirmar como um ser que sua religião não concebia: Filho de Deus. Em suas mãos, registra bem o detalhe quem narra, já estavam as pedras preparadas para serem desferidas em punição contra o blasfemo. O herege é alguém cujas idéias são ouvidas com as pedras nas mãos.


Há quatro palavras que precisam se associar para uma melhor compreensão do fenômeno herege. Instituição, ortodoxia, contingência e heresia.A instituição é via de mão única para um ser finito não entrar em inércia. Ninguém segue em frente em nenhum projeto ou relação sem institucionalizar.

Ninguém precisa parar e organizar friamente uma instituição para que ela surja. Basta seguir em frente no desenvolvimento natural de qualquer projeto ou relação.

Porque instituir é estabelecer a memória de uma viagem feita em comum com outros viajantes. Esta memória é constituída pelos hábitos, critérios, compromissos, regras, objetivos e teorias confeccionados ao longo do caminho. Eles são o mapa do caminho que já se fez e o que ainda precisa ser feito.

Sem esses valores nos transformamos em Sísifos, cujos trabalhos nunca se concluem. Sísifo foi o deus da mitologia grega conhecido por sua esperteza.

Por várias vezes conseguiu enganar /Tanatos /e /Hades/, deuses da morte e dos mortos. Ao morrer de velhice, Sísifo foi condenado a rolar montanha acima uma pedra de mármore. Cada vez que se aproximava do topo a pedra rolava montanha abaixo de novo com uma força insuperável, obrigando a começar de novo sem nunca terminar a tarefa.


Uma instituição é assim. Uma igreja, para falar mais de perto, precisa de uma programação a ser cumprida como uma agenda sagrada. São seus cultos. De uma linguagem que expresse suas crenças nos cultos. É a sua liturgia. De um conteúdo que responda aos seus questionamentos. É a sua pregação. De idéias que solidifiquem sua fé.

São seus dogmas. De pessoas que zelem por seus valores. É a sua hierarquia. É a memória que se cria ao longo de um caminho de fé compartilhado. Esta memória é que dará condição de sustentar um projeto com o passar do tempo, conquistando a confiança daqueles que a ele aderem e que anseiam por estabilidade. Esta adesão em busca de estabilidade é que autoriza a instituição.


A autoridade de uma instituição é o modo como é mistificada. A
instituição, seja ela casamento, igreja, estado, partido político,
agremiação, clube, faz o discurso, sempre e necessariamente, convincente de que é a resposta mais confiável para satisfazer determinadas necessidades ou aspirações. É a resposta persuasiva de que veio para ficar de tão pertinente.

O que a torna, então, um valor que precisa ser religiosamente perpetuado, com o risco de se desperdiçar algo essencial para a vida. Não demoram tanto, muitos estarão persuadidos sobre sua hegemonia: ela é a melhor resposta.

Sua perpetuidade: parece que sempre foi assim e, portanto, não deve ser de outro jeito. Sua heteronomia (uma regra que vem de outro): um deus a determinou, logo, é sagrada. Sua intocabilidade: opor-se a ela é quebrar um ciclo sagrado e, por isso, provocar a ira dos deuses, ou de Deus.


Mas curiosamente, a força que a torna necessária, a princípio, é a mesma que a fará questionável, depois. A contingência. Essa é a dinâmica da vida, sua “irresistível leveza de ser”, como no romance de Milan Kundera. A vida é fluida demais para ser emoldurada por uma instituição. O que hoje é, amanhã não mais será. Lulu Santos e Nelson Mota compuseram uma das mais belas canções que conheço: “Como uma onda no mar”, nela os poetas retratam a fluidez da vida. Uma de suas estrofes diz: “Tudo o que se vê não é/ Igual ao que a gente viu a um segundo/ Tudo muda o tempo todo no mundo/ Não adianta fugir/ nem mentir pra si mesmo agora/ Há tanta vida lá fora/ Aqui dentro sempre/ Como uma onda no mar!”

A vida não se repete. É inédita, imprevisível e incontrolável. As necessidades que geraram determinada instituição e suas respostas ou deixam de existir ou mudam.

Tornam-se mais complexas ou sem importância diante das outras e novas necessidades. Se mudam as necessidades, ou se deixam de
existir para existirem outras, mudam também as perguntas ou novas questões se impõem. É nessa dinâmica que surgem os hereges, “como uma onda no mar”. Como aqueles que ousam sugerir as novas respostas para as perguntas que ninguém quer ouvir. Quebram o encanto da estabilidade falando do que não estava previsto ou do que não era plausível dentro das teorias da instituição.


O herege é um desritmado. Todos dançam na mística do que está
instituído, em seu único ritmo. O herege por razões várias sai do ritmo. Viveu uma crise, divagou em um insight, sentiu-se entediado e insatisfeito, intuiu variações possíveis.

Qualquer ou quaisquer coisas que quebrem a seqüência e a unanimidade podem fazê-lo perceber o diferente. Ao sair do ritmo descobre uma nova possibilidade de dançar no mesmo salão. Descobre o improviso e o contratempo. Percebe que é possível, faz sentido e é bom ser diferente.


Thomas Kuhn chama o fenômeno que inicia a quebra de um paradigma de anomalia, um fator não explicado satisfatoriamente pela Ciência Normal. Até que um cientista, desprovido de muitas explicações, movido mais por intuição que por certeza, arrisca uma outra e heterodoxa explicação.

Logo terá em torno de si outros cientistas que também trabalharão com o candidato a novo paradigma até que ele venha a se tornar a Ciência Normal. O herege é como o cientista que, diante do acúmulo de perguntas não respondidas, destoa arriscadamente do modo como se vinha fazendo e explicando as coisas.


Mas há ainda outra palavra a ser associada para a compreensão do
fenômeno herege, a ortodoxia. Ela é o discurso a serviço da instituição.

Tem o seu bom valor em seu tempo real. Em determinadas condições aquelas respostas eram boas o bastante para serem levadas a sério e às últimas conseqüências. Ninguém constrói uma crença sem acreditar que ela faz sentido, que precisa ser ampliada e deve ganhar a coerência interna de seus argumentos.

Tanto quanto é relevante o bastante para ser objeto de persuasão do maior número de pessoas. Mas o grande problema da ortodoxia não é ela mesma e sim os ortodoxos.


Os ortodoxos são aqueles que atrelam ao discurso da ortodoxia seus valores pessoais. Um discurso feito sempre se confunde com o valor próprio de quem o publica. Quem doutrina sente a necessidade de perpetuar o pensamento ora defendido como quem salva a própria pele. São os ortodoxos que por auto-afirmação precisam sustentar a hegemonia de um pensamento: uma ortodoxia.

A perpetuação de uma doutrina a todo custo é sempre auto-perpetuação. Os estudiosos da psicologia interativa tratam da relação da fala com as paixões ideológicas. Uma vez que alguém se pronuncie a favor de determinada posição tende a associá-la a seu valor pessoal e, em defesa deste valor, lutar incansavelmente. Por isso o engajamento e a passionalidade. Certamente é por essa razão que quando alguém discorda de uma ortodoxia sofre uma reação tão violenta dos ortodoxos. Porque feriu sua própria carne.


Sem os ortodoxos a ortodoxia seguiria seu curso finito e natural: a
morte. Mas como a morte de uma ortodoxia é o fim dos valores de um ortodoxo e de sua auto-perpetuação, é preciso impedi-la como quem luta contra a própria morte.


Com o desenvolvimento das novas tecnologias na medicina, passamos a conviver com mais uma difícil ambigüidade. Algumas pessoas, ao fim anunciado de suas vidas, que já deram sinais de extrema debilidade física e, às vezes, de morte ‘existencial’, porque já não mais respondem às conversas, nem demonstram qualquer afetação emocional, mas estão tecnicamente vivas, sobrevivem mecanicamente.

São assim mantidas pelo enorme recurso tecnológico da ciência médica, com os antibióticos cada vez mais potentes, os aparelhos que substituem o funcionamento de órgãos vitais e o monitoramento fino que rastreia qualquer aproximação da morte. É a morte adiada. A complexidade está em definir até que ponto se pode manter um corpo vivo artificialmente sem o comprometimento ético da vida.

Afinal de contas somos seres finitos e a morte é o destino natural de todos. Fico sempre com a sensação de que se macula a dignidade de quem precisa se despedir com naturalidade da vida, mas é tecnicamente impedido.

Decidir por não usar recursos que vão apenas adiar a morte e protelar uma vida vegetativa, já tão bem anunciada, é muito difícil. Mas pode ser uma alternativa mais digna e, por que não, mais reverente à vida. Sei que o assunto é mais complexo do que minha intenção de que apenas sirva como ilustração.


A ortodoxia parece seguir a mesma terrível ambigüidade. Já não responde mais ao seu tempo como outrora. Tem aporias diversas em seu interior que comprometem sua pertinência. Não se comunica mais com as pessoas ao seu redor. Mas é mantida viva pela mística da instituição e o monitoramento zeloso dos ortodoxos.
A ortodoxia morre existencialmente, asfixia quem a ela está sujeito, combate com altas doses de apologia seus oponentes, mantém com culpa muitos ao redor de si e impede que a vida prossiga com a fluidez que a torna tão surpreendente e bela.


A heresia é a reverência à vida quando se escolhe não adiar a morte de uma ortodoxia. São as línguas confundidas do mito da Torre de Babel na Bíblia. Desaba a torre com suas pretensões de poder eterno, mas a vida se espalha sobre a terra em sua rica diversidade.
A confusão da linguagem libertou a humanidade da escravidão da ortodoxia. E no mito babélico, Deus é o grande herege: /“Vinde! Desçamos! Confundamos a sua linguagem para que não mais se entendam uns aos outros. (...)Deu-se-lhe por isso o nome de Babel, pois foi lá que Iahweh confundiu a linguagem de todos os habitantes da terra e foi lá que ele os dispersou sobre toda a face da terra.

Mas não foi a primeira e a única vez que Deus agiu hereticamente ou se colocou ao lado dos hereges. A história dos profetas confirma a sacralidade das heresias. Chama à atenção a profecia de Jeremias.

Enquanto grassa entre o povo a idéia otimista de que tudo estava bem e que o futuro seria de paz e prosperidade, Jeremias contrapõe. Denuncia as ruínas da nação dos judeus e anuncia a tragédia que bate a porta.

Todos se revoltam, alguém feriu a ortodoxia de uma ilusão. O profeta herege é lançado ao calabouço para que a sua voz não fale o que todos não aceitam que se diga. Somente depois, tudo o que o profeta-herege vaticinou fez sentido na mente de todos. Sem sua heresia, sequer haveria lucidez e aprendizado no meio da destruição da nação. Mas essa história é a história freqüente dos profetas, razão porque Deus se queixou do modo como o povo perseguia os profetas.


Mas a maior e redentora heresia de todos os tempos foi a encarnação de Deus. Deus feito gente, Cristo Jesus. Sua relação com a ortodoxia de então foi de profunda tensão: /“ele veio para o que era seu e os seus não o receberam. Mas a todos que o receberam deu o poder de se tornarem filhos de Deus: aos que crêem em seu nome.”

Jesus não foi o que a ortodoxia de sua religião e cultura determinava que fosse, uma reafirmação sobrenatural e violenta do judaísmo frente ao poder ultrajante dos romanos. Ele foi uma negação pacífica e radicalmente humana da pretensão sempre perversa de qualquer tipo de dominação sobre quem quer seja.


Não foi pela prática da força que Jesus anunciou a chegada do Reino de Deus. Ele escolheu praticar a fraqueza em uma cultura de forças, o amor que amadurece contra o poder que infantiliza. Acolheu a humilhação em uma disputa cujas armas eram a imponência e a ovação popular. Espalhava quando todos queriam aderir. Escondia-se quando todos reivindicavam visibilidade. Pedia silêncio quando os resultados serviam a mais poderosa propaganda.
Questionava e afligia as mentes quando muitos pressionavam pelas respostas simplistas e conclusivas. Era agressivo quando o mais politicamente estratégico era a polidez. Era Jesus quando todos esperavam um outro Cristo.


Jesus foi o vinho novo que reivindicou um novo odre, ou um tecido novo em negação aos remendos que apenas adiavam o fim de uma cultura e espiritualidade esgarçadas por suas contradições.


A cruz era a mão mais pesada do poder dominante. A mão forte do Império que só se justificava contra a mais terrível ameaça. Tanta força e violência convergindo sobre alguém tão frágil e suscetível – / "como uma ovelha muda que vai para o matadouro”, que não desejou os tronos instituídos de Roma ou dos judeus, tiveram ação reversa.

Refluíram contra os próprios autores, contra os poderosos de Roma e dos Judeus, como uma exibição de sua mesquinhez e tolice. A morte de Jesus foi a vitória da vida contra as forças mórbidas da ortodoxia. O Cristo morto desmascarou o perverso e tolo poder das instituições e ortodoxias sobre a vida e libertou a humanidade de sua tirania. O que parecia um poder inquestionável tornou-se um poder idiotizado.


A ressurreição de Jesus é muito mais que a vingança de Deus contra o mal. A ressurreição é insurreição. É Deus se insurgindo ao nosso lado contra toda e qualquer forma de sentença final sobre a vida humana.

Jesus ressuscitando é Deus se insurgindo a favor da vida. Contra todas as forças que pretendem congelar a vida para perpetuar poderosos. A ressurreição é a heresia de Deus contra a ortodoxia da morte.


Por isso, Senhor, obrigado pela heresia.




FONTE: www.elienaijr.wordpress.com

Outra liturgia para outra cultura



Eliel Batista


Todas as sociedades primitivas possuíam cerimônias especiais conhecidas como ritos de iniciação ou de passagem. Mais do que uma transição individual, os ritos representavam a sua aceitação e participação na sociedade.

Compreeder os ritos em sua essência, ajuda o ser humano a lidar bem com as mudanças da vida e a assumir novas responsabilidades. Ajuda também, a dar melhor historicidade e firmar valores pessoais.
Os rituais costumavam pontuar desprendimento, fechando um ciclo existencial e dando inicio a outro. O indivíduo deixava para trás coisas velhas para assumir outras novas.
Declarava-se no rito uma mudança de atitude e até mesmo de alteração de um grupo de relacionamento pessoal.


Vez por outra, o indivíduo chegava a trocar de nome o que representava uma radical mudança, uma declaração de ser uma nova pessoa a partir daquele instante.

Apesar do esvaziamento do significado original, alguns ritos ainda subsistem. Hoje em dia, as comemorações de 15 anos representam muito mais um evento social, do que o marco de uma nova fase na vida da mulher.

O batismo cristão serve como exemplo, de como com o passar do tempo, os ritos podem perder a força de seu real sentido. Visto apenas como uma pró-forma da religião, percebe-se por parte de um bom número de indivíduos, uma certa indiferença quanto ao compromisso de realmente cumprir a promessa feita diante da comunidade da fé. De igual forma, o casamento, mesmo diante de diversas testemunhas e documentos assinados, não inibe a facilidade de sua dissolução. Nas sociedades primitivas, a mudança ou promessa de um rito, era além de desejável, inquestionável, sagrada e uma obrigação impossível de se quebrar. Romper colocava em risco a sobrevivência da sociedade.

A prática de um mesmo rito difere de uma cultura para outra. Trote do vestibular, casamento, funeral e enterro, formatura, bodas, noivado, e diversos outros.
Cada um tem seu fundamento e serve para ratificar valores de uma sociedade. Por isso sua prática, a liturgia, precisa comunicar bem o propósito de sua existência. Sua execução precisa adaptar-se ao seu contexto cultural, para não perder o seu mais profundo significado.
Deveríamos como cristãos diante de nossa atual sociedade, nos perguntar se nossos rituais transmitem a mensagem de seu real símbolo?

A Ceia como exemplo:

Para uma cultura festiva em que comer junto significava a celebração da fraternidade, da vida, a abertura do privado para o outro, a ceia transmitia bem a mensagem de “koinonia”. Palavra normalmente traduzida por comunhão, mas cujo significado envolve muito mais, pois ela contém os conceitos de serviço, solidariedade, justiça, igualdade, fraternidade e mutualidade.

Em uma sociedade monárquica, com classes sociais distintamente extremadas entre nobres e plebe, não haveria melhor maneira de demostrar a maravilha do reino de amor e justiça, do que através de um ritual em que o soberano servisse o vassalo

Que significado teria a mesma ação em uma sociedade que se propõe igualitária?
Se nesta sociedade se valoriza mais o indivíduo do que a vida comunitária, e se sua cultura alimenta o egocentrismo, e o cidadão/consumidor tem seus direitos inalienáveis, o governante tem a obrigação de servir e é direito do governado ser servido.
Em nossa atual cultura o ritual da ceia transmite o significado de koinonia?

O amor para preservar sua essência precisa ser compartilhado ou deixa de ser amor. A ceia é um rito que simboliza o mais profundo amor.
Que tipo de significado tem para nossa sociedade um rito de doação, cuja prática em si transmite uma mensagem de recebimento?


Numa sociedade que luta pelos direitos individuais, como se deveria realizar um rito de caráter comunitário que significa doação e compartilhamento?

De maneira geral no atual ritual da ceia, cada crente permanece sentado em seu próprio lugar. Sem praticamente nenhuma interação com o outro, toma dos elementos das mãos de um único. Fecha seus olhos e numa postura isolada se concentra numa espiritualidade individual. A mensagem oral de comunhão é contraditada pela mensagem transmitida na prática do rito. Cada um é levado a se comportar individualmente como expectador da celebração.
Ela superestima a relação individual com Deus e subestima a relação comunitária com Deus. E uma não existe sem a outra. A ceia como parábola viva, deve revelar em seu ato, a verdade espiritual.
Se retirasse as palavras da ceia o que a liturgia transmitiria?

Penso a mensagem mais significativa da ceia como Corpo e Aliança.
Assim como Cristo se deu por nós devemos nos dar pelo outro, por isso a ceia transmite uma mensagem de um para com o outro: “este é o meu corpo dado a você” e de igual maneira “esta é a aliança que tenho com você”. Minha vida é sua e a sua é minha. Mensagem de pertencimento, pois há somente um pão e os que dele participam formam um só corpo. (1 Jo 3:16; 1 Cor 10:17)

Se toda nossa liturgia levar as pessoas a um comportamento de platéia, público, auditório e expectadores e somado a isto, se os figurais como púlpito, pregação, ministro de louvor, a disposição das cadeiras e o programa transmitirem uma mensagem de que alguns servem (ministram) e outros assistem, o tipo de envolvimento conseguido dos membros desta comunidade será apenas de expectadores.
Porque o rito e o ambiente promovendo mais o programa do que a vida comunitária e do que as relações interpessoais, num contexto que não compreende o programa como um serviço ou obrigação a Deus, pode-se acabar ressaltando no desenvolvimento social desta comunidade, um individualismo e descompromissado para com o outro.

A igreja precisa de um ambiente possível para que cada pessoa perceba que ela é única, mas não exclusiva.
Que cada crente ao sair de sua igreja, após aquele tempo maravilhoso de culto, esteja consciente de que pertence a um corpo, tem co-responsabilidades.
Penso que a mensagem oral e litúrgica da igreja deva desafiar as pessoas para que se abram para a vida e para o outro. Torne-as gente que crê apesar de suas fragilidades, limitações, e da volúpia do mundo injusto.
A graça é garantia suficiente do amor de Deus e se revela indiscutivelmente nas relações de fraternidade; de carinho.

Como penso a igreja do futuro (?).
- Um espaço de oportunidades para todos se compartilharem.


- O mestre aquele que desperta a vida de Cristo no discípulo e menos preocupado em passar conhecimento.



- O apologeta aquele que defende prioritariamente a vida e o amor, e com habilidade em colocar a doutrina a serviço dos homens. Que considere heresia o desprezo pela vida.



- Crente ou salvo aquele que torne em seu viver a realidade de Cristo e não aquele confessa um credo.



- O culto uma celebração da vida e contemplação de Cristo no outro.



- A confissão pública uma declaração de amor e comprometimento com Cristo e não um assentimento intelectual de uma declaração de fé.



- O pastor hábil na arte de acolher, menos orador e mais ouvinte.
- Ministro de louvor alguém com mais alma de poeta do que profissional da música.

Enfim, enquanto não desfrutamos do novo céu e nova terra onde habita justiça, vivamos cada dia com graça e esperança, produzindo paz e gerando vida.


Eliel Batista

FONTE: http://particulasdagraca.blogspot.com/

A divinização pastoral x demonização do crente



Antonio Carlos Barro e Jonathan Menezes


Apesar de que todas as evidências apontam para o contrário, todo ser humano foi criado à imagem e semelhança de Deus – imago Dei. Ter a imagem de Deus não significa ser como Deus, conforme propôs a serpente aos primeiros habitantes da Terra. Ter sido criado à imagem de Deus significa que o ser humano tem capacidade de exercitar alguns atributos que pertencem a Deus, tais como o amor, bondade, compaixão, misericórdia, e assim por diante. O exercício desses atributos não pode ser perfeito por causa da mancha do pecado no coração da humanidade.




Apesar de que todas as evidências apontam para o contrário, todo ser humano foi criado à imagem e semelhança de Deus – imago Dei. Ter a imagem de Deus não significa ser como Deus, conforme propôs a serpente aos primeiros habitantes da Terra. Ter sido criado à imagem de Deus significa que o ser humano tem capacidade de exercitar alguns atributos que pertencem a Deus, tais como o amor, bondade, compaixão, misericórdia, e assim por diante. O exercício desses atributos não pode ser perfeito por causa da mancha do pecado no coração da humanidade.

Nos tempos modernos temos presenciado um fenômeno estranho entre os evangélicos. Esse fenômeno tem duas vertentes. A primeira delas é a divinização do pastor ou do líder da igreja. Antes de outras considerações, voltemos no tempo por um pouco. No passado o pastor ocupava um lugar de destaque em sua igreja local, denominação e em sua cidade. Ele se ocupava principalmente em alimentar bem o seu rebanho, administrar a igreja, pregar, evangelizar e fazer visitas pastorais. O pastor era um sujeito pacato, trabalhador e cumpridor de suas obrigações. Não possuía grandes ambições, deixava que o conselho determinasse seu salário e morava na casa da igreja que servia também de ponto de apoio para os crentes que vinham ao centro da cidade. Era bem quisto por todos e gozava de respeito entre os seus concidadãos.

Com o passar dos tempos o pastor evoluiu (até para comprovar a teoria de Darwin, o que é uma ironia). A primeira evolução se deu quanto a sua auto-estima. Mudou a linguagem a seu respeito. O titulo de pastor ou reverendo ficou pequeno e já não cabia para nominar esse nobre filho de Deus. Outros títulos vieram e agora fazer parte do vocabulário do crente como se fosse à coisa mais comum do mundo: Apóstolo, primaz, bispo e bispa (sim até as mulheres foram agraciadas). Passou a ser referido como aquele que tem a autoridade, tem o cajado, o anjo da igreja, o ungido de Deus, o profeta de Deus, o mensageiro do Senhor e tantos outros.

Dessa auto-estima agora revigorada para uma opulência material foi apenas questão de tempo. Se nos idos da minha adolescência o pastor andava com seu Fusca, isso quando era pastor da igreja central, agora como filho do Rei ele não pode se contentar com menos do que uma BMW, uma Mercedes, ou outro carro que confira o status digno do cargo que ocupa. Com a auto-estima em alta, bens matérias fartos, o próximo passo foi o caudilhismo. Era inevitável. O pastor, antes aquele servo de todos, passa agora a ser senhor de todos (leia ou assista A Revolução dos Bichos). Ele manda e desmanda, dita ordens, impõe respeito com o seu cetro de ferro, diz quem pode namorar e com quem, quem vai casar e com quem, quando e onde. Autoriza viagens, decide qual casa o crente deve comprar, que carro dirigir, que escola colocar os filhos, com quais amizades deve romper.

O pastor assumiu o controle financeiro do seu crente, pede, ordena, exige que muito dinheiro seja dado na igreja justificando tudo em nome de Deus, do ministério, da evangelização, das almas que se perdem. Oferece em troca os favores divinos, as mansões celestes, o prazer terrenal, uma vida sem dores e sofrimentos. Aliás, isso é tudo o que um crente e qualquer outro ser humano desse tempo querem: uma vida cheia de vitórias, alegrias e triunfos, e, se possível, sem perdas ou sofrimento algum. Para Henri Nouwen, o cristianismo de nossos tempos procura desconectar-se completamente da realidade do sofrimento e da renúncia ou da vida abnegada. É um cristianismo que busca vitórias sem esforços. Almejamos, de acordo com Nouwen:

"Crescimento sem crise, cura sem dores, ressurreição sem cruz. Não é de admirar que gostemos de assistir a desfiles militares e de aplaudir heróis que retornam, operadores de milagres e recordistas. Também não é de admirar que nossas comunidades pareçam organizadas para manter o sofrimento à distância. As pessoas são sepultadas de maneira a disfarçar a morte com eufemismos e ornamentação rebuscada". (Transforma meu pranto em dança, p. 8).

Na visão de Nouwen, a maneira de Jesus é tão diferente. Ele não veio eliminar as dores, mas ajudar-nos a enfrentá-las com o realismo e a esperança que a vida nesse mundo requer, na perspectiva da graça e do amor de Deus, que padece junto com o sofrimento da humanidade. Isso está no Evangelho, não se trata de invencionice humana. Mas quem disse que o que é genuinamente do Evangelho atrai as pessoas de hoje, tão desejosas que estão de felicidade a qualquer preço? O pastor, sabendo bem disso, tem se transformado num contorcionista do "evangelho": torce, retorce, repuxa, e transforma a mensagem em algo mais bonito e aceitável, e ainda chama isso de "evangelho pleno". Mas "pleno" mesmo, só se for de fanfarronisse teológica ou de sinistrose diabólica.

O pastor divinizou-se, aceitou o oferecimento da serpente. Se o pastor é agora um ser divino, para que o seu "ministério" se realize ele não medirá esforços para demonizar o seu crente. O crente, há algumas décadas atrás, somente tinha olhos para a sua igreja, onde freqüentava com assiduidade a escola dominical, cultos, a reunião de oração da terça-feira à tarde e o culto da quarta-feira à noite. Havia ainda uns cultos evangelísticos nos lares, onde um presbítero ou diácono se encarregava de realizar os trabalhos.

Contudo, semelhantemente ao que ocorreu com o pastor, também o crente evoluiu. Deixou de ser aquela pessoa retrógrada, esquisita, que estava sempre evangelizando as vizinhas, que cumpria seus compromissos, que não comprava a prazo e, se comprasse, saldava suas prestações. Era respeitado como honesto, trabalhador e pessoa de fino trato. Hoje o nosso crente é urbano, acompanha a moda, é versado em BBB, novelas, não aporrinha os vizinhos com mensagens bíblicas e nem fica distribuindo Bíblias e folhetos. Tornou-se muito inteligente, pois prefere não somente o céu, mas também o melhor da Terra.

Apesar de tudo isso, os pastores e líderes divinizados fazem de tudo para demonizar o crente lembrando-lhe dos seus defeitos, mazelas e faltas. Lava o cérebro do crente martirizando-o quanto a sua falta de fé, oração débil, e compromisso financeiro sem coragem. Quanto mais demonizado é o crente, mais necessário se faz a presença de um líder divino. Muitos chamam esse tipo de violação de "abuso espiritual". Para Ken Blue, o "abuso espiritual acontece quando um líder investido de autoridade espiritual usa essa autoridade para coagir, controlar ou explorar um seguidor, causando-lhe ferimentos espirituais". ( Abuso Espiritual, p. 10).

E a grande arma do abuso espiritual e do autoritarismo pastoral é o "legalismo". Nossas igrejas estão cheias dele. É uma praga, uma peste que tem contaminado a muitos pastores e, como corolário, a seus crentes. O legalismo pode ser visto como "a expressão da compulsão de líderes na busca de segurança e previsibilidade. Pensam que se eles puderem fazer cumprir uma lista exaustiva de faça isso, não faça aquilo, conseguirão ter aquela segurança e previsibilidade pelas quais eles anseiam". ( Abuso Espiritual, p. 44). E, em muitos sentidos, têm conseguido. O crente parece não se importar em reter apenas a querela "vomitada" do púlpito de seu pastor (se é que poderia cair outra coisa), desde que esse alimento seja o suficiente para que se mantenha num estado de segurança existencial e dependência (demência) espiritual em que não tenha de decidir, sofrer nem tampouco pensar por si mesmo. Desse modo, o legalismo na igreja se retro-alimenta: o pastor necessita impor regras e fazer joguinhos espiritualóides com o crente a fim de manter-se no controle, e o crente precisa de um pastor que lhe diga exatamente o que, como e quando fazer, sempre é claro com o aval "espiritual" de que aquilo é bíblico (ainda que não seja, e muitas vezes não é) e representa a vontade de Deus.

Mas o legalismo não é algo novo, um produto desse tempo. No Novo Testamento vemos o quadro mais claro de quem eram seus conspícuos representantes: os fariseus, mestres da lei, escribas, e os judaizantes do tempo de Paulo. Não vejo Jesus sendo um pouco sequer indulgente com essa corja de "pastores". Pelo contrário, ele põe o dedo na ferida e aponta tremendas contradições existentes neles. Enquanto se apegam às suas tradições como carrapatos num cão, negam e subvertem o sentido da própria lei, que afirmam defender: "É bem isto, rejeitais o mandamento de Deus para guardar a vossa tradição... anulais a palavra de Deus com a tradição que vós transmitis" (Mc 7. 9, 13).

Isso me lembra Paulo quando escreve aos Gálatas, perplexo com a facilidade com que aqueles haviam se desviado da verdade do Evangelho, de sua vocação para a liberdade, para se render à escravidão da Lei, da justificação por esforço próprio. Ele diz: "De Cristo vos desligastes, vós que procurais justificar-vos na Lei; da graça decaístes" (Gl 5.4). E, contra os judaizantes, os líderes que faziam aqueles cristãos tropeçarem, ele dispara: "Tomara até que se mutilassem os que vos incitam à rebeldia" (Gl 5.12). Tanto como em Jesus, não vejo em Paulo a menor comiseração ao se referir a esses líderes-abusadores do rebanho. Jesus compara essa corja aquela a qual Isaías se referia dizendo: "Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim; é em vão que me prestam culto, pois as doutrinas que ensinam não passam de preceitos de homens" (Mc 7. 6-7).

Um dos objetivos do pastor deveria ser o de gerar filhos na fé bem nutridos, maduros, que pudessem caminhar com as próprias pernas, sem necessitar de cabresto ou leitinho "espiritual" na boca; de tal modo que, num futuro não muito longínquo, pudessem debater com seu pastor de igual pra igual, sem hierarquia, não só sobre bíblia e teologia como sobre a vida de modo geral. É o mestre sendo alcançado e até superado pelo discípulo. Quimérico? No mundo de hoje, sim, infelizmente. Armadilhas do sistema eclesiástico, como observa Eugene Peterson: "Enquanto que a comunidade míngua, a ansiedade por liderar cresce, mas é comum essa liderança destruir a comunidade, reduzindo as pessoas às funções que desempenham. Quanto mais "eficientes" nossos líderes se tornam, menos vida em comunidade nós temos". ( O pastor desnecessário, p. 189).

Logo, esse crente moderno sofre de inanição espiritual, tornando-se cada vez mais oco, cujo fim do abismo ainda está longe de ser encontrado. Por ser um tolo e ignorante do projeto de Deus para a sua vida, ele permite que um outro exerça o controle sobre sua vida ao ponto de cegar o seu entendimento. Perde a autocrítica e, como num passe de mágica, deixa de existir. Não pode rebelar-se contra os ensinos do pastor-deus. Tem medo de ser castigado e de perder as bênçãos. Finalmente, não aceitando a dignidade ofertada por Cristo, apanha com as mãos cheias aquilo que o Cristo rejeitou da serpente quando foi tentado no deserto, quem sabe focado na "restituição" prometida, riqueza e prosperidade material – aberrações dessa época.

Na percepção de Michel Quoist: "À força de desejar os bens materiais, de lutar para obtê-los, de tentar usufruir deles o homem acaba por cair progressivamente na incapacidade de imaginar para sua vida outra finalidade que não essa. E essa é a tragédia de seu destino". Esse autor ainda acrescenta: "A riqueza e o poder material não são males em si; o mal consiste em acreditar que são a condição da verdadeira grandeza". ( Construir o homem e o mundo, p. 68, 70).

É preciso tomar cuidado sempre e exercitar o bom senso, o discernimento espiritual. Segundo Quoist, existe uma beleza diabólica que seduz, aprisiona e desencadeia a guerra ( Construir o homem e o mundo, p. 112). O crente deve precaver-se desse tipo de beleza que muitas vezes é estampada no rosto falso dos profetas modernos. A Bíblia orienta muito sobre isso, mas parece-nos que a essa orientação não faz efeito e o crente não atenta para ela. Veja, por exemplo, que Paulo, escrevendo a Timóteo, diz: "rejeita as fábulas profanas..." (1Tm 4.7). Ele ainda orienta seu discípulo "para advertir a alguns, que não ensinem outra doutrina" (1Tm 1.3). Existe, portanto, essa forte possibilidade de se ensinar algo que não tem nada com a Bíblia e com o Evangelho de Jesus Cristo. Mas se o problema se resumisse somente aos pregadores isso seria até fácil de ser consertado. Essa facilidade não existe porque, como dissemos, os crentes desejam e necessitam desse tipo de líderes. O mesmo Paulo escrevendo ainda a Timóteo diz: " Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; e desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas" (2Tm 4.3-4).

Essa concupiscência a que se refere Paulo é epithymia, que significa "desejo por aquilo que é proibido" e esse comichão nos ouvidos literalmente significa o "desejo de ouvir coisas agradáveis". Ou seja, aqui se aplica aquele ditado popular: "juntou a fome com a vontade de comer". O crente que passa pelo processo de demonização não é inocente, como muitas vezes ouvimos por aí. Ele sabe o que está fazendo. Todo líder ou pastor divinizado sabe a respeito dessa necessidade que o populacho evangélico tem. Assim sendo, entregará aquilo que mais se busca. Mas, como ainda diz Quoist: "O verme que se acha dentro da fruta, mais dia menos dia fura a casca e a podridão se espalha do interior para o exterior". ( Construir o homem e o mundo, p. 112).

Todavia, para nós, o resultado mais grave dessa trama é o largo sorriso do Diabo. Sorri ele porque vê a igreja perdendo a sua essência, a essência missionária. Analise o movimento missionário brasileiro e veja a perda daquilo que foi conquistado a partir dos anos 1970. A igreja aceitou o desafio de enviar missionários, aceitou o desafio de transformar a sociedade, de viver a utopia do Reino de Deus. E hoje? Hoje a igreja é motivo de chacota e largos risos por parte da sociedade. Pouca gente tem coragem de acreditar nessa igreja que aí está.

Por isso, cremos que antes de orar por um avivamento é necessário reformar a igreja. Deus precisa levantar homens e mulheres que não se rendam a esse jogo sujo e medíocre chamado por muitos de "evangelho", pois não se trata do Evangelho de Cristo. E não sendo o Evangelho de Cristo, você não precisa (nem deve) se comprometer com ele e nem se acovardar em denunciá-lo.



* Os autores são professores da Faculdade Teológica Sul Americana (www.ftsa.edu.br)




Fonte: www.vidaacademica.net

25 de novembro de 2008

REDESCOBRINDO VALORES DA VERDADEIRA ADORAÇÃO!!!

REDESCOBERTAS PROVOCAM RECONQUISTAS!!!!


Redescobrindo valores da verdadeira Adoração!!!

Amigos quero convidá-los a que nestas poucas palavras, possamos analisar alguns pontos importantes a serem redescobertos em nossas vidas para que ai sim, possa ocorrer um genuíno avivamento;

Tendo sempre em memória que redescobertas provocam reconquistas, é aí onde o que se perdeu, é achado, e o que se foi, volta. (I Sam. 7:10-17).

É tempo de vivenciarmos a plenitude da ascenção espiritual em nossas vidas, para tanto, precisamos, atentar para alguns pontos, os quais chamo atenção para os abaixo citados:

1) REDESCOBRIR A SANTIDADE: esperemos que não ocorra em nossas vidas como o ocorrido de forma trágica, citado em I Sam. 6:20; Sede Santos porque eu sou Santo, Diz o Senhor!

2) REDESCOBRIR A ORAÇÃO: era e é o maior recurso usado para buscarmos a Deus. (I Sam. 7:2); Como dizemos a oração é a chave da vitória, nos leva a uma intimidade, um diálogo bem intimista com o Pai;

3) REDESCOBRIR A NECESSIDADE DA CONFISSÃO DE NOSSOS PECADOS: (I Sam. 7:6); Aquele que confessa e deixa alcançará misericórdia, abra seu coração, que não venhamos a carregar “pecadinhos de estimação”, pois nos impedirão de vermos o Pai;

4) REDESCOBRIR A NECESSIDADE DA CONVERSÃO: Nos livrarmos do mundanismo, materialismo, e aplicarmos os nossos corações ao Senhor tão somente ( I Sam. 7.4); que estejamos sempre separados, como luz a brilhar em meio a escuridão, sabendo que a nossa força geradora de energia é o Espiríto que se move em nós, por isso não há necessidade em trazermos apetrechos mundanos à nossa vida.

Que eu e vc querido amigo leitor, possamos, erguer um monumento, um marco em nossas vidas, após a análise e aplicação pessoal das observâncias acima, sob a direção divina e nomeá-lo também de Ebenézer e então após observarmos estes itens acima, citados como integrantes da redescoberta da ascenção espiritual em nossas vidas;

Tenhamos a certeza de que estas redescobertas em nossas vidas, produzirá amor, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio (Gal. 5:22).

Como os Israelitas obtiveram vitória permanente sobre os Filisteus (“...pois eles, Filisteus, foram dominados e não voltaram a invadir o território israelita...”), recuperaram cidades, tomadas por eles e alcançaram um período de paz com outros inimigos (“...e houve paz também entre Israel e Amorreus ...”).

Por fim, o Senhor quer nos dar vitória permanente, restituir as perdas sofridas ao longo do caminho, de nossa peregrinação, e nos levar nesta jornada rumo ao descanso eterno, nos levar a uma ascenção espiritual em nossas vidas, então, pela fé, ergamos “ uma pedra de ajuda”, em nossas vidas, que sempre possamos levantar as vozes e clamar Ebenézer!!!!

Deus os abençoe.
Em Cristo,

William Pessôa

13 de novembro de 2008

Em tempos como estes, o que pregar?


Nestes dias sinto-me compelido a revisar novamente as verdades elementares do Evangelho. Em tempos de paz nós podemos nos sentir livres para fazer passeios em distritos interessantes da verdade, que ficam em lugares longínquos, mas agora temos que ficar em casa, e guardar os corações e os templos da igreja, defendendo os primeiros princípios da fé. Nesta era, têm surgido dentro da igreja homens que falam coisas perversas. Há muitos que nos perturbam com suas filosofias e “interpretações de romance”, pela quais eles negam as doutrinas que professam ensinarem, e minam a fé que prometeram guardar. É bem que alguns de nós, que sabemos o que cremos e que não temos nenhum significado secreto em nossas palavras, devamos apenas firmar nossos pés e manter nossa posição, segurando firmemente a Palavra de vida, e declarando nitidamente as verdades do Evangelho de Jesus Cristo.

- C. H. Spurgeon
(traduzido por Vinícius M. Pimentel)

REPENSANDO A AMIZADE

Amizade é um tema bem amplo e, muitas vezes, esquecido, sem muita reflexão de nossa parte. Como bem destacou C.S. Lewis, poucos poemas ou romances modernos celebram o amor encontrado na amizade. Talvez, o real motivo por trás dessa desvalorização da amizade seja o fato de que raros são aqueles que a experimentam realmente.

É comum nos encontrarmos, em momentos, refletindo sobre a dificuldade de achar bons amigos. Como gostaríamos de experimentar a amizade de Davi e Jônatas! Mas, como isso parece impossível! Raramente, pensamos que o problema se encontra em nós, geralmente, são os outros que "não estão à nossa altura". A grande verdade é que a Bíblia nos fornece exemplos diversos de amizade e mostra a possibilidade de desenvolvermos relacionamentos com profundidade e lealdade. Nem todos serão amigos íntimos, com quem rasgamos nossos corações, mas, certamente, há aquele "mais chegado do que um irmão".

Quando avaliamos o propósito e objetivo de uma amizade, não podemos deixar de fazê-lo a partir das Escrituras. Elas são as lentes pelas quais enxergamos a vida, pois somente elas nos conduzem à perfeição das ações que Deus requer de nós (2 Tm 3.16, 17).

Diante, disso, nosso propósito maior em tudo o que fazemos deve ser a glória de Deus (1 Co 10.31). Ao dar a Sua vida pelos seus amigos, Jesus estava promovendo a glória do Pai (Jo 15.12-13 com 17.1-4). A fim de atingir este propósito, a Bíblia nos orienta sobre alguns objetivos que devemos buscar com a amizade.

Em primeiro lugar, a amizade deve focar o aperfeiçoamento do caráter daqueles com quem compartilhamos momentos juntos (Pv 27.17). Tal aperfeiçoamento deve caminhar rumo ao caráter de Cristo (Rm 8.29). Isso requer de nós esforço impulsionado e experimentado pela esfera de vida no Espírito Santo (Rm 14.17-19). Contribuir para o crescimento espiritual de meu amigo e irmão em Cristo inclui tanto apontar erros que precisam ser corrigidos (Pv 27.5-6; Gl 6.1-2) quanto ser presente nos momentos difíceis (Pv 17.17).

Um segundo objetivo que devemos focar numa amizade é desenvolver o amor sacrificial pelos outros. A Bíblia diz que o solitário está em busca apenas de seus próprios interesses (Pv 18.1). Quando imitamos o amor sacrificial de Cristo por nós, tendo essa mesma atitude na direção de nossos irmãos, então, verdadeiramente se evidenciará que somos discípulos do Mestre (Jo 13.34-35). Nós amamos porque Deus nos amou primeiro (1 Jo 4.9-10, 19).

Este amor é visível em nós quando somos humildes na nossa atitude para com os outros, considerando os outros mais importantes que nós, focando nas necessidades do outro, antes que nas minhas (Fp 2.3-8). É perdoar nossos amigos quando estes falham conosco, evitando a difamação e amargura (Ef 4.31 – 5.2; Fp 4.2-3).

Tiago Abdalla

8 de novembro de 2008

CATÓLICOS = EVANGÉLICOS???

Católicos idolatram santos e imagens.

Evangélicos idolatram a si mesmos e suas igrejas.



Católicos tem ladainhas, quanto mais falam, mais poder acreditam mover.

Evangélicos tem o poder rhema, quanto mais falam, mais poder acreditam mover.



Católicos tem visões, geralmente de santos.

Evangélicos tem visões, geralmente de demônios.



Católicos tem as tradições dos pais, invenção dos lideres.

Evangélicos tem as profecias, invenção dos “profetas”.



Católicos querem uma experiência com Deus, e fazem uma promessa a “santa”

Evangélicos querem uma experiência com Deus, e chilreiam em linguajar bizarro (ou pedem para alguém “orar por eles”, e caem no chão, com alguém segurando atrás).



Católicos compram indulgências, as relíquias sagradas, benzidas por algum capelão.

Evangélicos compram bênçãos, objetos ungidos, abençoados por algum “pastor”.



Católicos acham que precisam ser boas pessoas para ir ao céu.

Evangélicos acham que precisam freqüentar a igreja e serem boas pessoas para ir ao céu. (Ou seja, não vá e esteja em pecado!!!)



Católicos tem água benta, para se benzer.

Evangélicos tem óleo ungido, para receber a benção.



Católicos tem confissionários/autoflagelação, para ficarem limpos espiritualmente

Evangélicos tem exorcísmo/libertação/descarrego, para ficarem limpos espiritualmente.



Católicos tem a reza do Pai-Nosso, para tentar falar com Deus

Evangélicos tem a “Oração Forte”, para tentar falar com Deus.



Conclusão:



Embora haja pluralidade de rituais e crenças, a perdição é a mesma. Muda-se apenas o sotaque.



99,9% dos assim chamados “evangélicos” estão tão perdidos quanto os católicos – ou talvez até mais - pois eles acreditam estarem vivendo numa “espiritualidade superior”, e não precisam mudar em nada, rejeitando com ainda mais o simples Evangelho de Jesus Cristo.



Vemos então, quão grande a necessidade de missões.



E qualquer Cristão temente a Deus, deve evitar qualquer identificação com os neo “evangélicos”, pois isso mata sua alma, e o afasta de Jesus.



Que Deus nos abençoe, a medida que nós o obedecemos.



por Christian Reichel

6 de novembro de 2008

A (NOSSA) FÁBRICA DE ÍDOLOS. ( IDOLATRIA DE "SANTOS" VIVOS é o que nos diferencia dos CATÓLICOS)

A (NOSSA) FÁBRICA DE ÍDOLOS.

Uma das causas da perseguição à igreja de Cristo no primeiro século, fora porque os “cristãos de recusavam terminantemente a oferecer incenso nos altares devotados ao culto ao imperador romano”[1], mesmos estes sabendo que caso fosse oferecido incenso ao imperador, poderiam seguir uma segunda religião. Outro fator importante para que se desencadeasse uma perseguição à igreja cristã, fora a questão religiosa. Ou seja, a religião romana era extremamente idólatra, e seus templos eram abarrotados de ídolos para todos os lados. “A religião romana era mecânica e externa. Tinha seus altares, ídolos, sacerdotes, cânticos processionais, ritos e práticas que o povo podia ver”. A liturgia cristã era totalmente contrária à romana, ou seja, não existiam altares, ídolos, e sacerdotes. “Seu culto era espiritual e interno. Quando se punham de pé e oravam de olhos fechados, suas orações não eram dirigidas a nenhum objeto visível”. Esta atitude para as autoridades romanas, constituía-se em ateísmo.

Interessante é observar a situação da igreja evangélica brasileira atualmente. Não podemos nos considerar distintos dos romanos. Nossos cultos estão cada dia mais parecidos com os da liturgia religiosa pagã do império romano. Ou seja, é necessário que haja algo visível, como movimentos, curas, visões, revelações, para que o culto constitua-se definitivamente "culto". Os ídolos de mármore encontrados nos templos romanos, hoje são substituídos por ídolos de carne e osso. São os “apóstolos”, conferencistas, cantores, e cantoras que ocupam o lugar dos ídolos inertes romanos na liturgia cristã atual. Não há mais possibilidade de ocorrer um culto “aceitável”[2], sem que estes ídolos estejam incluídos. Sem eles, o culto torna-se "estapafúrdio", “frio”, e facilmente denominado como ateísta, pois obviamente que Deus não está neste ambiente, pois não há movimentos, não há "apóstolos", e não há milagres. Hoje é necessário a gruta dos milagres, a “unção” do óleo santo, a rosa ungida, a “unção” do riso, e as muralhas da vitória, para que o povo sinta (ou melhor, tentam sentir) a “presença” de Deus. Será que não conseguimos observar a trave que está atravessada, e que já feriu o bastante nossos olhos? Até quando iremos acolher estes homens, como ídolos em nossos templos, vendendo seus produtos ungidos pela avareza, soberba e libertinagem. Pastores que são cultuados como deuses, cantores que são adorados como divindades. A liturgia cristã (principalmente a pentecostal[3]) já não vive mais sem eles. Literalmente, temos uma fábrica de ídolos dentro de nossas igrejas, e o que tem alimentado esta degradação litúrgica religiosa cristã, são os próprios cristãos. São deles que procede o poder econômico sustentável destes ídolos. São os cristãos que patrocinam a idolatria dentro de nossas igrejas.

Nós evangélicos que reprovamos a atitude idólatra por parte de muitas religiões, por causa de nossa prepotência espiritual, não estamos observando a linha de produção de ídolos que já fazem parte do nosso cenário eclesiástico. Ou, será que estamos tão dependentes e viciados em conviver com estes ídolos e seus “dons”, que já não nos imaginamos viver sem eles? Enquanto houver esta mão de obra, a fábrica nunca será fechada.

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[1] CAIRNS, Earle E. O cristianismo através dos séculos. São Paulo: Vida Nova, 2008. p. 75.
[2] Quando menciono aceitável, refiro-me antropologicamente. Ou seja, aceitável aos homens.
[3] Sou cristão pentecostal, e com conhecimento de causa

fonte: http://pericopecc.blogspot.com/ (victor Hugo)

REFORMA É CARISMA

Sonho com uma igreja reformada e carismática. O que isso significa? Basicamente duas coisas:

1) Uma igreja que defende a supremacia e a inerrância bíblicas. (Reforma) O liberalismo (a crença de que a Bíblia contém a Palavra de Deus), a neo-ortodoxia (a crença de que a Bíblia se torna a Palavra de Deus) e os abusos do movimento pentecostal e neopentecostal (profecias e "apóstolos" no mesmo nível ou acima da Escritura) são ameaças bem reais às igrejas cristãs. As conseqüências destes movimentos são claras: a Bíblia deixa de ser um livro confiável e acaba perdendo a sua posição de autoridade máxima. No lugar, entra a razão, as profecias, a opinião do clero ou os esquemas teológicos oficiais das igrejas (tradição). Isso tem que acabar. A Bíblia precisa ser reafirmada como o tribunal supremo dos cristãos, estando acima de novidades teológicas, da cultura, de tradições e até mesmo dos concílios, credos e confissões de fé. Para isso, é preciso que a doutrina da inerrância bíblica seja exigida de todos os pastores e oficiais das igrejas. O pastor ou oficial que não crê na inerrância da Palavra de Deus não pode permanecer na liderança das igrejas. A razão é simples: se a Bíblia é falha, ela não pode ser a nossa fonte última de autoridade. E, se é assim, Lutero estava erradíssimo em deixar a Igreja Católica.

2) Uma igreja que leve a sério o uso dos dons do Espírito Santo. (Carisma) Basta uma lida rápida em 1 Coríntios 12-14, Efésios e Romanos 12, para perceber que uma compreensão correta dos dons espirituais é essencial para saber como as igrejas devem agir nos dias de hoje. É um erro que um assunto tão importante mal seja estudado nas igrejas históricas. Como também é absurdo que se estudem apenas dons "sobrenaturais" em algumas igrejas pentecostais e neopentecostais. Os protestantes históricos erram por ignorar dons "sobrenaturais" e não estudarem este assunto de modo sério e profundo com a membresia. Por outro lado, os pentecostais e neopentecostais erram quando pensam que dons se resumem a profecia, línguas, interpretação, curas e milagres.

Na verdade, o ponto 2 é um desdobramento do ponto 1. Sou carismático por entender que este é o ensino bíblico. Muitas vezes o carismatismo não é aceito porque ele não se encaixa em um esquema "racional" de explicação bíblica. Logo, "Carisma" é conseqüência de "Reforma".

Todas as outras questões podem ser resolvidas com esses pontos. Forma de culto, costumes, questões bioéticas...se a Bíblia ocupar o lugar que lhe é devido, tudo isso pode ser resolvido.

por Helder Nozima

5 de novembro de 2008

A ORAÇÃO E A PALAVRA, ALAVANCAS PARA O CRESCIMENTO DA IGREJA

Rev. Hernandes Dias Lopes


A igreja é um organismo vivo e não apenas uma organização. Seu crescimento é natural e não resultado de técnicas de comunicação. Seu crescimento saudável vem através da conversão e não da adesão. Seu crescimento espiritual desemboca no crescimento numérico e este deve espelhar seu crescimento espiritual.

Na busca do crescimento da igreja, não podemos nos capitular à numerolatria, a idolatração dos números nem à numerofobia, o medo dos números. Uma igreja saudável cresce o crescimento que vem de Deus, e isso tanto numérica quanto espiritualmente.

Não devemos nos abastecer das fontes do pragmatismo moderno se queremos estudar sobre o crescimento da igreja, antes, devemos nos debruçar sobre o Livro de Atos, o verdadeiro manual do Espírito Santo, a orientar a igreja contemporânea na busca desse crescimento saudável.

O crescimento da igreja passa pela oração e pelo ministério da Palavra. Os tempos mudaram, mas o método de Deus não. Os apóstolos entenderam essa verdade incontroversa e firmaram essa estacada, definindo a prioridade que dariam a esses dois elementos cruciais: Oração e Palavra (At 6.4).

1. A prioridade da oração no crescimento da igreja – O crescimento da igreja é uma obra de Deus. Plantamos e regamos, mas só Deus dá o crescimento. Pregamos e evangelizamos, mas só Deus pode abrir o coração. Ensinamos e exortamos, mas só o Espírito Santo pode convencer o homem do pecado, da justiça e do juízo. Mesmo que usássemos todas as técnicas modernas e todos os recursos da terra, jamais poderíamos converter sequer uma alma. O novo nascimento é uma operação sobrenatural e exclusiva do Espírito Santo. Por isso, somente Deus pode agregar à igreja os que são salvos. Sendo assim, precisamos depender mais dos recursos de Deus do que dos nossos recursos. O poder para realizar a obra de Deus não vem da nossa inteligência, ou dos nossos recursos financeiros, nem mesmo das nossas habilidades pessoais, mas de Deus. É ele quem escolhe, regenera, chama, justifica e glorifica. A salvação é obra de Deus do começo ao fim. Sabendo disso, a igreja contemporânea deveria orar com mais fervor e com mais intensidade, como o fez a igreja primitiva. O crescimento numérico da igreja primitiva retrata sua vida exuberante de oração. A igreja orava e os resultados apareciam. Os joelhos se dobravam em oração e os corações se derretiam na presença de Deus em sincera conversão.

2. A supremacia da Palavra no crescimento da igreja – Na medida em que a Palavra de Deus crescia e prevalecia, a igreja primitiva se multiplicava. Hoje podemos até experimentar um crescimento numérico da igreja sem a supremacia da Palavra, mas não um crescimento saudável. A igreja do Pentecostes começou com a Palavra. No dia de Pentecostes Pedro pregou um sermão Cristocêntrico e cerca de três mil pessoas foram convertidas. Todo registro de crescimento da igreja primitiva no livro de Atos está diretamente ligado à proclamação da Palavra de Deus. É mediante a pregação que Deus chama os seus escolhidos. A fé vem pelo ouvir e ouvir a Palavra de Cristo. Deus escolheu salvar o homem pela loucura da pregação. A igreja cresce na medida em que a Palavra de Deus cresce. Não podemos produzir o crescimento saudável da igreja, mas podemos proclamar a Palavra de Deus com fidelidade e no poder do Espírito Santo, sabendo que a Palavra que sai da sua boca nunca voltará para ele vazia.

Quando a igreja se voltar para Deus por intermédio da oração fervorosa e se voltar para o mundo para proclamar com poder sua Palavra, então, essa igreja experimentará um crescimento extraordinário, pois Deus honra a oração e a Palavra, alavancas do crescimento de sua igreja.